
Em teoria, a reimaginação musical do maior clássico de animação da Disney com argumento de Greta Gerwig ("Barbie") e realização de Marc Webb ("O Fantástico Homem-Aranha") deveria ser um grande momento de festa.
No entanto, a estreia a partir de 20 de março está a gerar ansiedade por causa das guerras culturais e ainda os conflitos políticos em público entre as protagonistas Rachel Zegler e Gal Gadot.
As conversas sobre "Branca de Neve" têm sido dominadas por este ambiente "tóxico" e a má publicidade continua a aumentar: numa nova reportagem de quarta-feira, várias fontes disseram à revista The Hollywood Reporter (THR) que o estúdio "não tem nenhuma fé" no filme e só quer "despachar" o lançamento e seguir em frente.
No espaço de uma semana, surgiram outras notícias sobre a "decisão pouco habitual" de não fazer uma antestreia de gala em Londres e limitar a agenda de divulgação a uma mão cheia de eventos de imprensa rigorosamente controlados por prever uma "reação anti-woke", segundo adiantaram fontes ao tabloide The Daily Mail, e que a de Los Angeles no sábado vai ter a cobertura limitada a fotógrafos e uma equipa interna do estúdio, excluindo os meios de comunicação normalmente convidados para fazer entrevistas na passadeira vermelha, evitando assim perguntas incómodas às atrizes.
Já esta quarta-feira, só "influencers" e "VIPs" tiveram acesso a um "evento especial" com Rachel Zegler num castelo em Segrovia, a noroeste de Madrid.

O proprietário de um cinema nos EUA e uma fonte de um estúdio rival disseram à THR que, ao contrário de outras versões em imagem real da Disney, a gigantesca máquina de marketing do estúdio tem estado discreta e os bilhetes só foram colocados à venda a 10 de março, 11 dias antes da estreia na América do Norte, quando o habitual é um mês. E se o embargo para partilhar reações nas redes sociais é levantado no sábado, a imprensa propriamente dita vai ver o filme só a 18 de março e poderá publicar as reações no dia a seguir, 24 horas das primeiras sessões.
Esta quarta-feira, o lançamento do trailer da uma versão em imagem real de “Lilo & Stitch", que gerou bastante entusiasmo on-line, também foi interpretado como uma mensagem subliminar: "Independente do que pensem de 'Branca de Neve', a seguir temos este".
Fontes da Disney disseram à revista que o plano foi sempre lançar a campanha maior nas últimas semanas, começando com a presença das duas atrizes na cerimónia dos Óscares a 2 de março, o que não convence uma fonte do setor dos cinemas: "Estão a fazer os mínimos no 'Branca de Neve', praticamente a dizer 'Precisamos acabar com isto depressa'. Um ciclo de vendas antecipadas [de bilhetes] de menos de duas semanas apenas grita 'Não temos fé nenhuma nisto'. E não poderia vir num momento pior, quando a indústria está apenas a tentar aguentar até maio.'"

As guerras culturais a envolver o filme começaram com as críticas racistas à escolha da norte-americana de descendência colombiana Rachel Zegler como a nova heroína e continuaram com as reações negativas de fãs ruidosos nas redes sociais às imagens que apareceram 'online' e a decisão de excluir referências aos "sete anões" ("criaturas mágicas" na nova versão, segundo a Disney para "evitar reforçar os estereótipos do filme de animação original”).
A fúria aumentou quando Rachel Zegler colocou em causa o legado do clássico da animação de 1937, dizendo em várias entrevistas que a história estava "datada" e o príncipe era "um perseguidor". Mais recentemente, a sua reação nas redes sociais contra a reeleição de Donald Trump e quem votou nele, posteriormente apagada, despertou a fúria dos apoiantes MAGA.
Houve ainda a publicação em agosto de 2024 de uma mensagem em defesa da campanha "Free Palestine" (Libertem a Palestina), enquanto a israelita Gal Gadot, que interpreta a Rainha Má, abandonando uma maior discrição, aumentou o ativismo em defesa do seu país após os ataques do Hamas a 7 de outubro de 2023.
As duas atrizes estão a promover o filme, mas ostensivamente separadas por milhares de quilómetros: Gal Gadot a fazer a ronda dos 'talk-shows' americanos do canal ABC (o mesmo da Disney, sem perguntas incómodas), Rachel Zegler em Tóquio e Espanha com o realizador Marc Webb.
A rodagem decorreu entre março e junho de 2022 sem relatos de incidentes, com refilmagens em 2023 e 2024. As atrizes apareceram juntas nas convenções Disney de setembro de 2022 e agosto de 2024, mas segundo a imprensa tabloide, a relação fraturou-se por causa do posicionamento antagónico sobre o conflito na Faixa de Gaza.
A distância repete-se nas redes sociais — as duas seguem-se, mas não aparecem nos feeds uma da outra — e após apresentarem uma categoria nos Óscares, a única interação prevista em conjunto será a antestreia de Los Angeles no El Capitan Theater, a tal cujo acesso está a ser controlado com mão de ferro pelo Disney.
As últimas estimativas apontam que "Branca de Neve" vá arrecadar entre 50 e 56 milhões de dólares no fim de semana de estreia na América do Norte de 21 a 23 de março, tendo pela frente um longo caminho para se tornar lucrativo para a Disney após as várias refilmagens agravarem o orçamento para valores entre os 240 e 300 milhões de dólares, sem incluir o marketing.
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