A Canadian Media Producers Association (a associação canadiana de produtores) disse que a tarifa de 100% sobre filmes produzidos no exterior, anunciada pelo presidente Donald Trump, causará "dificuldades económicas" no Canadá e nos EUA.

A indústria cinematográfica global foi abalada pelo último anúncio de tarifas de Trump, embora os detalhes do plano ainda não sejam claros.

Hollywood consternada com tarifas de Trump sobre filmes produzidos fora dos EUA
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"As medidas propostas no anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, causarão perturbações significativas e dificuldades económicas aos setores de produção de ambos os lados da fronteira entre Canadá e EUA", disse a CMPA, um grupo de 'lobby' nacional, em comunicado.

Filmes de Hollywood e grandes produções televisivas americanas são regularmente rodados no Canadá.

Uma pesquisa com executivos de estúdios revelou que os seus cinco locais de produção preferidos para 2025 e 2026 estavam fora dos EUA, devido aos programas competitivos de incentivo fiscal oferecidos.

As reações

Toronto, a maior cidade do Canadá, liderou a lista, enquanto Vancouver, uma cidade da Costa Oeste, ficou em terceiro lugar.

O governo de Toronto disse à France-Presse (AFP) na segunda-feira que estava ciente do anúncio de Trump e "a trabalhar para reunir mais detalhes para ajudar a entender qualquer impacto potencial na indústria cinematográfica" da cidade.

Hollywood é um setor significativo da economia dos EUA, gerando mais de 2,3 milhões de empregos e 279 mil milhões de dólares em vendas em 2022 (245,34 mil milhões de euros, à cotação do dia), de acordo com os dados mais recentes da Motion Picture Association.

Mas após as greves dos argumentistas e atores de Hollywood e da pandemia de COVID-19, que levou os americanos a verem mais filmes em casa, a indústria ainda está a lutar para recuperar a força.

Trump anunciou no domingo que instruiu as autoridades comerciais dos EUA a "iniciar imediatamente o processo de imposição de uma tarifa de 100% sobre qualquer filme" que entre no país e seja "produzido no exterior".

Segundo Trump, "a indústria cinematográfica nos Estados Unidos está a MORRER muito depressa. Outros países estão a oferecer todo o tipo de incentivos para atrair os nossos cineastas e estúdios para longe dos EUA".

“Hollywood e muitas outras áreas dos EUA estão a ser devastadas”, acrescentou.

Tarifas prejudicariam a qualidade dos filmes, diz diretor do festival de Toronto

Hollywood sempre foi "uma indústria internacional", que sofreria criativamente se o trabalho fora das suas fronteiras fosse restringido, disse à AFP o diretor do maior festival de cinema da América do Norte, frequentemente usado para dar visibilidade aos potenciais nomeados para os Óscares.

Cameron Bailey, diretor executivo do Festival Internacional de Cinema de Toronto, juntou-se a outros líderes da indústria do entretenimento para criticar a proposta de Trump, que mergulhou a indústria cinematográfica na incerteza.

"Hollywood em si sempre foi, desde os primórdios, uma indústria internacional", disse Bailey durante a entrevista no principal local do TIFF em Toronto, um complexo que inclui cinemas, bares e outros espaços sociais.

Relembrou a "era clássica" da indústria cinematográfica americana nas décadas de 1940 e 1950, criada por cineastas vindos da Europa.

Bailey diz que a história da produção cinematográfica provou o valor de deixar "o brilhantismo narrativo realmente fluir através das fronteiras".

"Como qualquer indústria global, quando se atrai os melhores talentos de todo o mundo, sai-se sempre melhor", disse Bailey.

Bailey destacou que se Trump avançasse, quaisquer medidas para limitar a produção cinematográfica no Canadá provavelmente levariam a menos talentos injetados em Hollywood.

"Por vezes, os nossos atores tornam-se as suas estrelas de cinema", recordou.

E acrescentou: "Os nossos produtores, argumentistas, realizadores e equipas estão todos a trabalhar para apoiar os filmes, programas e séries de Hollywood, e isso já acontece há muito tempo."

Nada de pisos peganhentos

À medida que os cinemas enfrentam novos desafios para atrair espectadores perante o crescimento dos serviços de streaming, Bailey afirmou que o sucesso futuro dos cinemas dependerá da sua capacidade de oferecer uma experiência social elevada.

O local do TIFF no centro de Toronto, The Lightbox, inclui um lounge para cocktails e várias outras áreas para interações sociais, complementando a experiência de ver um filme.

"Não há mal nenhum em ver algo em casa, no sofá, isso também é sempre bom, mas acreditamos na experiência cinematográfica", disse Bailey.

"Iremos ver cada vez mais cinemas a oferecer esse tipo de experiência premium, servindo refeições, servindo vinho e a oferecer às pessoas lugares para conversar depois do filme", ​​acrescentou.

A "experiência técnica", incluindo qualidade de imagem e som, também precisa ser de elite, disse Bailey.

"Nada de pisos peganhentos, obviamente, tem de parecer algo especial quando se sai."

Bailey disse à AFP que não vê necessidade de a indústria cinematográfica canadiana "recrutar ativamente" artistas americanos, mas afirmou que o Canadá deve permanecer "um refúgio" para aqueles que se sentem desconfortáveis ​​com as circunstâncias políticas noutros países, incluindo os EUA.

"O Canadá tem uma história não muito distante de acolher pessoas que não queriam participar na Guerra do Vietname como americanos, e vieram para o Canadá e foram uma parte significativa da construção da cultura neste país nas décadas de 60 e 70", disse.

A 50.ª edição do TIFF será em setembro.