O produtor Paulo Branco revelou hoje à Lusa que vai processar o Festival de Cinema de Cannes por eventuais danos causados pela projeção no evento do filme "O homem que matou D. Quixote", de Terry Gilliam.
Paulo Branco explicou que não vai recorrer da decisão do Tribunal de Paris, sobre a providência cautelar que tentou impedir a exibição do filme em Cannes, mas tenciona processar o festival pelos possíveis danos decorrentes da estreia marcada para o dia 19.
"Serão analisados os danos causados por esta projeção [prevista para o dia 19, no encerramento do festival] e Cannes será responsável desses danos", disse o produtor português.
Paulo Branco tinha interposto uma ação em tribunal em Paris contra o festival francês para impedir a exibição do filme no encerramento, em estreia mundial, no dia 19, no seguimento de uma disputa legal por causa dos direitos do filme.
O festival fica autorizado a exibir a longa-metragem de Terry Gilliam, mas segundo Paulo Branco, os direitos do filme continuam a pertencer-lhe e à produtora Alfama Films.
"O juiz teve uma decisão de uma grande sabedoria, porque deu a possibilidade de o festival passar o filme, se pagarem e comunicarem publicamente que os direitos continuam da Alfama e do Paulo Branco. O juiz confirmou que qualquer interpretação outra que não seja que os direitos nos pertencem é falaciosa e errada", explicou o produtor.
Paulo Branco sublinhou ainda que os produtores e distribuidores de "O homem que matou D. Quixote" não podem fazer "nenhuma outra exploração do filme sem um acordo pré-feito" com ele.
Certo é que os atuais produtores do filme mantêm os planos de distribuição internacional, nomeadamente em 300 salas em França e também na China.
"O Festival de Cannes quebrou o feitiço. 'O homem que matou D. Quixote" entra na história do cinema. Em todas as salas a 19 de maio de 2018", revela a distribuidora.
A página oficial do filme no Facebook também partilhou uma reação que fala por si.
A decisão surge no mesmo dia em que se soube que a Amazon Studios, que chegou a financiar o filme, recuou na intenção de fazer a estreia comercial nos Estados Unidos, e que Terry Gilliam teve problemas de saúde que obrigaram à sua hospitalização em Londres no fim de semana. Informações de que teria sofrido um AVC não foram confirmadas, apenas de que teve um "mal-estar" e que tenciona ir ao Festival.
Apenas algumas horas antes de ser conhecida a decisão do Tribunal, Paulo Branco também tinha dado uma conferência de imprensa em Cannes onde dizia acreditar que a Amazon se tinha desvinculado por causa do conflito jurídico.
Referiu ainda que a decisão de Cannes de escolher o filme para a sessão de encerramento tinha "poluído" o processo jurídico e chamou "fantoche" a Thierry Frémaux, que assinou a 30 de abril um violento comunicado contra o produtor.
Estes são os mais recentes desenvolvimentos de uma disputa legal por causa dos direitos do filme, rodado em Espanha e em Portugal com elenco internacional.
O projeto chegou a contar com produção de Paulo Branco, anunciada em 2016, mas Terry Gilliam acabou por não concretizar a parceria, alegadamente por problemas de financiamento.
Terry Gilliam pediu a anulação do contrato de produção com a produtora Alfama Films, de Paulo Branco, mas em 2017 o Tribunal de Grande Instância de Paris declarou que aquele continua válido.
Paulo Branco insiste que a exploração e utilização das imagens do filme não pode existir sem o acordo prévio da Alfama Films.
"O Homem que Matou D. Quixote" é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.
Em Portugal, o filme não escapou à polémica, por causa de supostos estragos causados durante filmagens no Convento de Cristo e que levaram a Direção-Geral do Património Cultural a abrir um inquérito.
Independentemente da decisão de hoje sobre Cannes, está ainda em curso um processo judicial que deverá ter decisão a 15 de junho no Tribunal de Recurso em Paris, sobre a possível indemnização de Terry Gilliam ao produtor português, por causa de direitos sobre o filme.
"Continuo a ter os direitos sobre o filme e será difícil que a situação seja revertida. A decisão de 15 de junho, que foi comunicada, não resolve nada. Há ainda um processo no Reino Unido", disse Paulo Branco à agência Lusa em abril passado.
Certo é que os atuais produtores do filme mantêm os planos de distribuição internacional de "O Homem que Matou D. Quixote", nomeadamente em 300 salas em França e também na China.
Em Portugal, onde a estreia deverá ser assegurada pela NOS, não há ainda data oficial anunciada.
"O Homem que Matou D. Quixote" uma coprodução internacional entre vários países, nomeadamente Espanha, França e - em produção minoritária - Portugal, com um orçamento de cerca de 16 milhões de euros.
Esta adaptação livre de "D. Quixote", de Miguel Cervantes, cuja narrativa no filme oscila entre os séculos XVII e XXI, conta com interpretações de Jonathan Pryce, Adam Driver, Olga Kurilenko e a atriz portuguesa Joana Ribeiro, entre outros.
O 71.º Festival de Cinema de Cannes começou na terça-feira no sul de França.
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