A realizadora Ava DuVernay apoiou as declarações do ator David Oyelowo, que denunciou que membros da Academia dos Óscares disseram não ir votar no filme "Selma - A Marcha da Liberdade" por causa de uma manifestação que ficou célebre durante a antestreia em dezembro de 2014.

O filme era sobre a luta histórica e pacifista de Martin Luther King contra a lei da segregação racial, que culminou na épica marcha de Selma a Montgomery em 1965.

Foi nomeado para o Óscar Melhor Filme, categoria em que votam todos os membros da Academia, e Melhor Canção, em que as nomeações são decididas pelos membros do respetivo ramo da organização.

John Legend e Common ganharam o prémio pela canção "Glory", mas muitos críticos destacaram as omissões de Oyelowo para Melhor Ator e DuVernay para Realização.

Tudo terá passado pelo que aconteceu na antestreia, quando o elenco e a realizadora usaram t-shirts a dizer "I can’t breathe" [Não consigo respirar], as últimas palavras ditas por Eric Garner, um homem negro, durante a sua detenção, antes de morrer julho de 2014, aos 33 anos, vítima de estrangulamento por parte de um polícia branco em Nova Iorque.

O caso voltou a receber grande atenção por causa da morte de George Floyd a 25 de maio deste ano, após um polícia ter mantido o joelho no seu pescoço durante quase nove minutos. A situação foi filmada e tem levado a manifestações em todo o mundo contra a violência policial contra as pessoas de raça negra e de apoio ao movimento Black Lives Matter.

Nesse contexto, David Oyelowo recordou numa entrevista ao Screen Daily o que aconteceu a seguir ao protesto na antestreia de "Selma".

"Membros da Academia ligaram para o estúdio e os nossos produtores a dizer 'Como é que eles se atrevem a fazer isso? Por que é que estão a arranjar confusão?' e 'Não vamos votar nesse filme porque achamos que não é o papel deles fazer isso'", recordou o intérprete de Martin Luther King.

"Foi em parte por isso que o filme não recebeu tudo o que as pessoas pensaram que deveria ter recebido e originou o #OscarsSoWhite", acrescentou, referindo ao movimento que criticava a ausência de diversidade nas nomeações.

"Eles usaram a sua posição de privilégio para rejeitar um filme com base no que eles valorizavam no mundo", defendeu.

Nas redes sociais, a realizadora partilhou a ligação para o artigo do ScreenDaily apenas com a mensagem "História verdadeira".

A reação despertou a atenção da Academia dos Óscares, que respondeu: "Ava e David, estamos a ouvir-vos. Inaceitável. Estamos empenhados com o progresso".

Em 2016, um ano após a cerimónia em que concorreu "Selma", a organização dos Óscares foi muito criticada pela ausência consecutiva de profissionais negros entre as 20 nomeações das categorias de interpretação.

O caso reforçou as críticas #OscarsSoWhite e motivou uma onda de protestos e o apelo a um boicote da cerimónia, nomeadamente por parte do realizador Spike Lee e do casal de atores Will Smith e Jada Pinkett-Smith.

A então presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, manifestou-se "destroçada e frustrada" pelas falhas em matéria de diversidade e prometeu reformas, que desde então são visíveis nos convites aos profissionais para se juntarem à organização, cuja composição era descrita como sendo sobretudo homens brancos de idade avançada.