Programador do Lucky Star: Cineclube de Braga e responsável por alguns filmes em formatos vários, como a curta “Longe: Far” (apresentada no Festival de Locarno), Oliveira desafiou Tiago Aldeia a interagir com uma noite autodestrutiva de Braga na pele de Roberto, um jovem eremita que encontrou refúgio num Alentejo longínquo e vê a chegada de uma carta desabar esse seu oásis aparentemente sólido.

Determinado a reencontrar-se com o seu passado, Roberto regressa a Braga, sem saber que isso o conduzirá a uma busca vampírica pela imortalidade.

O protagonista de "Os Conselhos da Noite" falou com o SAPO Mag sobre estas suas promessas noturnas que chegam às salas portuguesas esta quinta-feira (17), o companheirismo que o interceptou e os caminhos que deseja percorrer no cinema.

Sobre a sua participação neste filme, o que o levou a trabalhar com o realizador José Oliveira?

Li o guião, encontrámo-nos para uma conversa e foi aí que percebi a sua visão e entusiasmo, a sua abertura a sugestões, e tudo começou. Foi uma real troca de ideias, que se efetivaram na rodagem do filme com cumplicidade.

“Os Conselhos da Noite” é um filme que, no fundo, aborda a nossa autodestruição como estado de espírito. As noites e tudo anexado, como um escape das nossas, e íntimas, questões existenciais. Alguma vez se sentiu como esta personagem?

Acho que todos nós, em algum momento da nossa vida, com maior ou menor intensidade, tentamos resolver alguma questão emocional com esse tipo de escapes, esses “pensos rápidos”. Seja para esquecer momentaneamente um problema, provocar “dormência” à dor, inibição, euforia... etc. Mas, felizmente, nunca senti essa necessidade de forma tão profunda e constante como o “Roberto”, muito menos num sentido autodestrutivo que lhe é latente.

Queria-me que contasse a sua experiência em contracenar com Adolfo Luxúria Canibal, o vocalista dos Mãos Morta. No filme, dá-se a entender que se divertiram a filmar estas ditas cenas.

O Adolfo e a sua personagem “Vicente” são de poucas palavras e o “Roberto” extrovertido, eu sou extrovertido... e esta irónica conjugação correu muitíssimo bem! Em cena é clara a cumplicidade, e efetivamente foram das cenas mais divertidas de fazer no filme.

Sobre esta noite bracarense, inteirou-a por completo? E não questiono somente em termos de personagem.

O “Roberto” decididamente, eu ainda tenho que ir mais vezes a jogo [risos].

VEJA O TRAILER "OS CONSELHOS DA NOITE".

Tendo uma carreira maioritariamente televisiva, com algumas paragens no cinema, e agora vendo-se como o protagonista de “Os Conselhos da Noite”, será razão para avançar ainda mais no cinema? Existem projetos novos em vista?

Absolutamente, adoro fazer cinema. Mergulhar intensamente numa personagem “naquele” período de rodagem realiza-me muito. Tenho pena que o nosso mercado seja pequeno e as oportunidades e condições não sejam muitas. Mas tenho algumas ideias a serem trabalhadas... tudo a seu tempo.

Sobre a reabertura das salas? Esta aposta do cinema português numa altura em que o medo de ir aos cinemas ainda é vincado, previsões naquilo que será o cinema português pós-COVID?

Não podemos parar, já é um setor em dificuldades há alguns anos, pelo que temos de continuar a trabalhar para permitir que todos possam ter acesso à cultura! E na verdade, temos que tentar ver o copo meio cheio. Ultrapassado o medo, e porque todas as medidas de segurança e higiene estão a ser rigorosamente aplicadas nas salas de cinema, é uma boa oportunidade para as aproveitarmos, como se fossem nossas! Um verdadeiro luxo. Deixo assim o apelo, vão ao cinema, nunca o barulho das pipocas incomodaram tão pouco.

Enquanto ator, que dificuldades ou virtudes trarão estas novas regras de segurança e sanitárias no trabalho e envolvimento com outros colegas e técnicos?

É muito difícil ver qualquer virtude, pois evitar a proximidade numa arte em que a emoção se traduz tantas vezes pelo contacto chega a ser frustrante. Tal e qual como nos é difícil não abraçarmos a família e amigos. E todos nós sentimos falta desse toque!