A 16 de novembro, os irmãos e produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson receberam na 15.ª cerimónia dos Governors Awards o prémio Irving G. Thalberg: a maior distinção honorária da Academia dos Óscares para a sua área consagrava o trabalho à frente da saga James Bond após a reforma em 1995 do pai de Barbara e padrasto de Michael, o lendário produtor Albert “Cubby” Broccoli.

Mas as atenções na dupla intensificam-se: ainda não se sabe quem será sucessor de Daniel Craig como o espião mais famoso do cinema, que se despediu com "007 – Sem Tempo Para Morrer", uma estreia que adiou de abril de 2020 para setembro de 2021 por causa da pandemia.

Para uma saga que lança filmes a cada 3-4 anos, a paragem é invulgarmente longa e o anúncio de novidades não parece iminente. O mais que se conseguiu arrancar dos produtores é que procuram um ator na casa dos 30 anos, não necessariamente branco, e que quem aceitar a missão será com a expectativa de que estará envolvido pelo menos numa década de filmes.

Refugiada no "é uma grande decisão", Barbara Broccoli disse há poucas semanas que não existe um novo Bond, história ou argumento.

Barbara Broccoli e o seu meio-irmão Michael Wilson com Daniel Craig

Agora, foi revelado que o impasse resulta do colapso da relação entre a família que tem o controlo criativo da saga e a Amazon, que comprou o estúdio Metro-Goldwyn-Mayer por 6,5 mil milhões de dólares em 2022, um negócio onde tiveram peso significativo os direitos de co-financiar e distribuir os filmes 007.

Segundo o jornal Wall Street Journal, a saga está parada e não há esperança de um novo filme no curto prazo: a Amazon não pode avançar sem Barbara Broccoli, que à medida que Michael Wilson se aproxima da reforma (fará 83 anos em janeiro) emergiu como a principal administradora da saga e não quer fazer um novo filme com o estúdio.

"O impasse, dizem pessoas de ambos os lados, resume-se a um choque entre a Hollywood do século XX, dos grandes ecrãs e grandes apostas, e uma nova indústria de entretenimento comandada por empresas de Silicon Valley que valoriza dados, algoritmos e assinaturas de streaming", diz o artigo de 19 de dezembro, baseado em entrevistas sob anonimato a mais de 20 pessoas, entre executivos, parceiros de negócios e amigos.

"Para Broccoli e Wilson, Bond é mais do que uma personagem que rendeu 7,6 mil milhões de dólares em receitas de bilheteira. É uma herança de família lucrativa, a ser tratada com cuidado", resume o jornal.

Ainda antes da entrada do gigante eletrónico, a produtora já recusara a expansão da saga à televisão, jogos de vídeo, brinquedos e pelo menos um casino. A pessoas que lhe são próximas, diz agora que não confia a personagem cujo destino controla há 30 anos a uma Amazon centrada em algoritmos e cujos responsáveis descreveu como um 'grandes idiotas' [no original, um muito mais explícito 'fu***** idiots').

"Broccoli tem vindo a queixar-se que a Amazon não é um bom lar para Bond, já que o negócio principal da empresa é vender de tudo, de papel higiénico a aspiradores — uma perspetiva que os executivos da Amazon consideram injusta. Mas já que ela faz as escolhas criativas que surgem primeiro — argumento, elenco, história —, Broccoli pode manter Bond como refém da Amazon o tempo que quiser", sintetiza a notícia.