Qual é o pior filme da história do cinema?
Ao longo das décadas não têm faltado candidatos ao título, com o mítico “Plan 9 from Outer Space”, de Ed Wood, a ser o mais célebre de todos. Mas na última década emergiu um outro contendor ao título, que está gerar um fenómeno cada vez maior: “The Room”, realizado por Tommy Wiseau em 2003 já foi considerado pela Entertainment Weekly como o “Citizen Kane” dos maus filmes. Depois de ter feito uma carreira praticamente invisível nas salas de cinema, a fita ressuscitou inesperadamente graças à fama que se foi criando em torno dela, a de uma obra tão má que só vendo é possível acreditar que exista. E a coisa não parou aí: de repente, as sessões começaram a suscitar a interacção do público, ao melhor estilo de “The Rocky Horror Picture Show”, com espectadores vestidos como as suas personagens preferidas, a debitarem diálogos de cor e a atirarem coisas ao ecrã.
Na origem de tudo está uma peça de teatro escrita pelo próprio Wiseau, adaptada a seguir a livro (até aqui sem suscitar o interesse de quem quer que fosse) e finalmente a cinema, com um orçamento de seis milhões de dólares, que o responsável diz ter angariado maioritariamente em negócios derivados da importação de blusões de cabedal da Coreia.
A história gira em redor de um banqueiro bem-sucedido (mais uma vez o próprio Wiseau), que é um dos vértices de um triângulo amoroso que inclui a mulher e o melhor amigo. No meio disto, há inúmeras intrigas paralelas com uma grande variedade de personagens, por vezes sem relação directa com a narrativa principal e sem justificação para existirem que não a vontade do seu autor. Sem qualquer tipo de experiência de cinema, Wiseau não parece ter tido o mínimo de preocupação com questões de continuidade, contexto ou verosimilhança. E como não sabia sequer a diferença entre a película de 35 mm ou o vídeo de alta definição, decidiu filmar tudo com duas câmaras nos dois formatos, o que aumenta ainda mais o delírio da coisa.
Se houve detractores logo ali, Wiseau não lhes ligou: preparou uma primeira exibição pública em que apareceu de limusina, e cuja reacção terá sido de tal ordem que um repórter da Variety que lá esteve disse que a maioria da sala tinha pedido a devolução do dinheiro dos bilhetes ao fim dos primeiros 30 minutos de filme.
A coisa podia ter morrido logo ali, como tantas vezes acontece, mas quando a fama de “pior filme de sempre” começou a circular, alimentada por fãs como Paul Rudd, Patton Oswalt ou Kristen Bell, Wiseau voltou à carga. Redistribuiu “The Room” nos circuitos do cinema de culto e começou a ganhar fama nas sessões da meia-noite, assumindo agora a fita como uma comédia negra e justificando as suas inabilidades como algo de perfeitamente intencional.
Mas a popularidade de “The Room” rapidamente lhe fugiu ao controlo e as sessões começaram a tornar-se verdadeiros fenómenos populares, com o público a interagir continuamente com o filme, entre o delírio anárquico e o seguimento de regras bem definidas, que vão de beber Scotchka (uma mistura de Vodka com Scotch) à entrada e atirar colheres ao ecrã em determinadas cenas até repetir frases em coro e levantar telemóveis ou isqueiros durante uma canção.
Greg Sestero, um dos atores do filme, co-escreveu com o jornalista Tom Bissell um livro sobre a concretização de “The Room”, que serviu de base à película agora realizada e protagonizada por James Franco, “Um Desastre de Artista”, que certamente ampliará ainda mais o fenómeno da fita original, exibida regularmente em várias cidades dos EUA, e ainda em Londres, Ottawa, Glasgow e Melbourne.
Em Portugal, “The Room” teve uma primeira apresentação a 27 de julho de 2013 em Lisboa, no Espaço Nimas, numa sessão festiva organizada por Filipe Melo e co-apresentada com Nuno Markl, e duas novas sessões no mesmo espaço, já a 6 e 7 de outubro de 2017, com a presença do próprio Greg Sestero.
Trailer "Um Desastre de Artista".
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