O radialista Nuno Markl anunciou nas redes sociais que não vai fazer mais dobragens para filmes e séries.

A decisão surgiu após o ator Luís Mascarenhas o ter incluído na "malta da moda" que é procurada para fazer dobragens por causa da sua celebridade, substituindo atores especializados no ofício.

Nuno Mark destacou o artigo com as declarações de Luís Mascarenhas a uma publicação: “Quando dobrei a voz do Capitão Haddock [do filme ‘Tintin: O Segredo do Licorne’], não queriam que fosse eu. Mas o Steven Spielberg, que nem me conhece, disse que era uma das vozes que queria. E, depois, havia dois gajos, que são uns craques nas dobragens, o José Jorge Duarte e o Rui Paulo, que foram trocados pelo Rui Unas e pelo Nuno Markl, a malta da moda. É a malta que, nas redes sociais, publica tudo. Até quando veste umas cuecas azuis. Os tipos da PIDE hoje em dia estavam tramados, estavam todos desempregados".

Luís Mascarenhas com Júlio Isidro

créditos: Facebook Júlio Isidro

Na resposta, Nuno Mark recordou precisamente o filme de 2011 e um encontro com o seu crítico: "'Tintin: O Segredo do Licorne'. Lembro-me de várias coisas: entre elas, o orgulho de partilhar uma dobragem com o lendário Luís Mascarenhas, um Haddock perfeito, e de ele ser bastante simpático comigo, quando nos cruzámos brevemente na altura. Afinal, todos estes anos depois, constato que, por dentro, ele estava a rogar-me pragas Haddockianas! Uma pena só saber disto agora. As pessoas deviam ser mais sinceras. Não seria o fim do mundo".

"Ainda assim, e com 51 anos de vida e 30 de carreira a trabalhar em humor e com a voz, há um lado em mim que fica estranhamente lisonjeado por ser apelidado pelo Luís como ‘malta da moda’. Eu, que já me acho um dinossauro, estou a sentir-me um jovem adolescente 'influencer' – embora não me lembre exatamente da última vez que mostrei as cuecas nas redes sociais", acrescentou.

Na altura de anunciar a reforma do setor, Nuno Markl fez o balanço da sua experiência: "Fiz as dobragens que fiz porque fui convidado e acho que não me safei mal. Dei o litro, e diria que me safei melhor do que o Futre – não sei se ele faria o Bing Bong do “Inside Out” como a incrível direcção do Carlos Freixo me levou a fazer".

"Dobrei uma quantidade jeitosa de filmes entre 2006 e 2022. Dá um gozo do caraças, dá bastante trabalho, mas, ao longo de todos estes anos, se, por um lado, me senti acolhido por muitos profissionais da área, também tenho recorrentemente de ouvir o azedume de alguma malta que acha que eu estou lá a mais. Já não estou para isso”, reconheceu.

"Tendo em conta que não preciso na minha vida nem do trabalho de dobragem, nem de azedume, creio que esta é uma boa altura para fazer uma grata vénia e reformar-me desse ofício. Apesar de ser um gaiato da moda para o nosso Haddock, estou velho para estas zaragatas e nem o gozo, nem o dinheiro que as dobragens dão pagam a sensação de que, para alguns profissionais da área, sou mais um Futre a dobrar filmes. Termino esta carreira com o Professor Marmelada d’'Os Mauzões'. Parece-me um esplêndido final!, concluiu.