Thandie Newton diz ter ficado surpreendida pelas reações positivas a uma entrevista que deu à Vulture em julho.

Entre as revelações que se tornaram virais destacam-se as da intensidade de Tom Cruise na rodagem de "Missão Impossível II" e do sexismo e racismo em Hollywood, nomeadamente da produtora Amy Pascal quando estavam a ser escolhidas as atrizes para o filme "Os Anjos de Charlie".

"Pensei que ia ficar com problemas porque isso é mais ou menos isso a que estou habituada", contou a estrela de "Westworld" à publicação Variety.

A atriz britânica não quis dizer se recebeu reações dos visados, mas confirmou que as suas histórias "deixaram pessoas assustadas" e a pensar que podia fazer outras porque está há muitos anos em Hollywood.

Thandie Newton explicou que foi sincera porque é "uma mulher mais velha que percebeu que saber a verdade e falar a verdade me beneficiou muito mais do que ficar em silêncio ou ver as pessoas silenciadas à minha volta".

"E não tenho nada a perder. Não tenho nada a perder porque posso simplesmente não ser contratada, o que é mais ou menos o normal para as pessoas da minha geração... [...] Sou uma mulher negra de 47 anos. Nem devia conseguir agora um papel. É muito invulgar", acrescentou.

O "stress" de Tom Cruise

A revelação mais mediática na entrevista à Vulture foi como achou "assustador" o comportamento dominador de Tom Cruise na rodagem de "Missão Impossível II" (2000).

Thandie Newton revelou que nunca foi convidada a regressar para as sequelas e houve um momento durante a rodagem do filme de John Woo que foi um "pesadelo".

"Estava com tanto medo do Tom. Ele era uma pessoa muito dominadora. Ele esforça-se ao máximo por ser simpático. Mas a pressão. Carrega com muita coisa. E acho que tem a sensação de que só ele pode fazer tudo da melhor forma possível", comentou.

O pior dessa pressão ter-se-á manifestado durante a rodagem de uma cena de discussão à noite numa varanda em que Tom Cruise claramente não estava satisfeito com a interpretação da parceira e ficou "tão frustrado" que quis trocar de personagens para lhe mostrar o que queria.

"Filmámos a cena toda com eu a ser ele — porque, acredite, nessa altura já sabia os diálogos de cor — e ele a fazer de mim. E foi o mais inútil ... não consigo pensar em nada menos revelador. Apenas me empurrou ainda mais para uma posição de terror e insegurança. Foi uma verdadeira vergonha. E abençoado seja ele. E estou a falar a sério, porque ele estava a dar o seu melhor", recordou.

A atriz telefonou mais tarde ao realizador Jonathan Demme, com quem trabalhara em "Beloved" (1998), a descrever a noite como um "pesadelo" em que ela era a grande culpada.

Mas o vencedor dos Óscares por "O Silêncio dos Inocentes" (1991) admoestou-a "gentilmente" por não ter confiança nela própria.

Mais tarde, Tom Cruise telefonou, mas em vez do pedido de desculpa que julgava que ia ouvir, ficou apenas a saber que iam voltar a filmar a cena na semana a seguir.

A repetição foi muito diferente "porque percebi o que ele queria. Ele apenas queria que fosse uma cabra dominadora. E fiz o melhor que podia. Não é a melhor forma de arrancar o melhor trabalho de uma pessoa".

Mas Thandie Newton diz que teve "tempos extraordinários" a fazer o filme e Tom Cruise não foi "horrível" como colega: "Ele estava apenas muito stressado".

O racismo casual de Amy Pascal

Thandie Newton contou como esteve na corrida para a primeira adaptação ao cinema de "Os Anjos de Charlie" (2000) e de um encontro com Amy Pascal para o papel que acabaria por ser de Lucy Liu.

A então CEO do estúdio Columbia Pictures comentou que se fosse escolhida, teriam de alterar o argumento para tornar a sua personagem "credível" pois era descrita como sendo licenciada e culta.

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Quando Thandie Newton indicou que ela própria tinha frequentado a Universidade de Cambridge, Pascal respondeu "Sim, mas tu és diferente" e sugeriu que talvez criassem uma cena em que estivesse "num bar e subisse a uma mesa e começasse a mexer sensualmente o traseiro".

"Essencialmente, ela estava a reproduzir aqueles estereótipos de como ser mais convincente como personagem negra. A tudo o que ela dizia eu respondia 'Não, eu não faria isso' e ela 'Sim, mas tu és diferente'", recordou.

Forçada a sair da Sony Pictures em 2015 após o escândalo do cibertaque à Sony ter revelado emails embaraçosos, incluindo especulações jocosas sobre a preferência de Barack Obama por filmes com atores negros, Amy Pascal disse ao Vulture que estava "horrorizada" com a descrição do encontro e apesar de levar as afirmações de Thandie Newton a sério, não se recordava de nada.

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