A caminho dos
Óscares 2025
As nomeações para os Óscares que foram anunciadas na quinta-feira foram marcadas por um cariz muito internacional, o protagonismo invulgar dos musicais e novas caras entre os realizadores.
Além das fronteiras
O filme francês “Emília Pérez” é o grande favorito com 13 nomeações, um novo recorde para uma longa-metragem em língua não inglesa. Outro filme francês, “A Substância”, aparece como candidato em cinco categorias, enquanto o brasileiro “Ainda Estou Aqui” aparece em três.
Entre os nomeados estavam o ator russo Yuri Borisov ("Anora"), a brasileira Fernanda Torres ("Ainda Estou Aqui") e a veterana italiana Isabella Rossellini ("Conclave").
"Flow - À Deriva", um filme de animação da Letónia, também está nomeado, e na categoria de curta-metragem de animação os cinco nomeados não são americanos.
A música no centro das atenções...
Na Era de Ouro de Hollywood, grandes musicais como “O Feiticeiro de Oz” costumavam dominar os Óscares.
Embora tenha havido sucessos mais recentes como "La La Land", o género geralmente perdeu o reconhecimento da crítica. E mesmo este, com o seu recorde de 14 nomeações, perdeu o prémio de Melhor Filme para "Moonlight" na célebre confusão de envelopes no final fracassado da cerimónia dos Óscares de 2017.
Entre os musicais para esta edição que se destacam estão “Emília Pérez”, “Wicked”, a adaptação do musical homónimo da Broadway, e “A Complete Unknown”, sobre os primeiros anos da carreira de Bob Dylan, que totalizam 31 nomeações.
As três longas-metragens apresentam a música de formas diferentes: “A Complete Unknown” no clássico estilo biográfico, “Wicked” com vibrações da Broadway e “Emília Pérez” num espírito mais excêntrico.
Entre os artistas nomeados está a superestrela pop Ariana Grande, que interpreta Glinda em “Wicked”, na categoria de Melhor Atriz Secundária.
Nestes três filmes, todos os atores nomeados cantam ou até tocam algum instrumento, como Timothée Chalamet e Monica Barbaro em “A Complete Unknown”.
... mas não em palco
Apesar dos elogios musicais, a cerimónia dos Óscares deste ano quebrará a tradição ao não fazer apresentações ao vivo dos nomeados para Melhor Canção.
O anúncio ocorre após as interpretações memoráveis as canções de “Barbie” com Billie Eilish e Ryan Gosling no ano passado.
Não haverá essa oportunidade para a cantora e atriz Selena Gomez, que cantou o número "Mi Camino", de "Emília Pérez", e para H.E.R, que interpreta "The Journey", de "Batalhão 6888".
Em vez disso, os líderes da Academia dizem que o programa contará com segmentos focados “nos compositores”.
Isso é uma boa notícia para Diane Warren, que quebrou o seu próprio recorde com a 16.ª nomeação com “The Journey”. Nunca ganhou um Óscar competitivo, mas ganhou um honorário em 2022.
"Nepo babies"
Há muito tempo que é um segredo aberto em Hollywood que uma das formas mais rápidas de chegar ao topo é ter pais famosos.
Mas mesmo para os descendentes dos atores mais talentosos, essa jornada ainda pode demorar muitas décadas.
Que o diga Isabella Rossellini, filha da três vezes vencedora Ingrid Bergman e do aclamado cineasta Roberto Rossellini, que finalmente conseguiu a sua primeira nomeação aos 72 anos, com "Conclave".
E a brasileira Fernanda Torres, de 59 anos, seguiu os passos da mãe, décadas depois de Fernanda Montenegro ter sido nomeada por "Central do Brasil".
Novas caras
Na ausência de filmes de pesos pesados de Hollywood como Christopher Nolan, Steven Spielberg ou Martin Scorsese - e nenhum amor por "Megalopolis" de Francis Ford Coppola -, nenhum dos cinco nomeados ao Óscar de Melhor Realização recebeu o prémio ou sequer fora antes nomeado na categoria.
No entanto, não lhes falta experiência: James Mangold (“A Complete Unknown”) tem 61 anos e Jacques Audiard ("Emília Pérez") tem 72; o mais novo é Brady Corbet ("O Brutalista"), com 36 anos.
Os outros nomeados são Sean Baker ("Anora"), com 53 anos, e Coralie Fargeat, com 48.
Só Mangold fora antes nomeado, mas pelo Argumento Adaptado com "Logan" (2017), sobre o super-herói Wolverine, e como o produtor do Melhor Filme "Le Mans '66: O Duelo" (2019).
Todos ganharam destaque nos circuitos independentes e internacionais - e "Um Profeta" (2009), de Audiard, foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme Internacional.
Os analistas descreveram como uma surpresa a ausência de Denis Villeneuve (por “Dune - Duna: Parte Dois”), que só foi nomeado para Melhor Realização por “O Primeiro Encontro”.
Um tom político
Um exemplo é a nomeação da atriz transgénero Karla Sofía Gascón (“Emília Pérez”) na categoria de Melhor Atriz.
Na segunda-feira, dia em que tomou posse, o novo presidente norte-americano Donald Trump emitiu um decreto a ordenar ao seu governo que “reconheça” a existência de apenas “dois géneros: masculino e feminino”, e considera-os “imutáveis”.
Os Óscares de 2025 também incluem Sebastian Stan e Jeremy Strong, nomeados pelos seus papéis principais e secundários respetivamente em “The Apprentice - A História de Trump”, filme que retrata a ascensão de multimilionário nas décadas de 1970 e 1980.
O presidente americano tentou em vão impedir o lançamento do filme nos EUA, chamando-o de “pura difamação”.
A ligação Cannes
Muitos dos filmes premiados no Festival de Cannes no ano passado chegaram aos nomeados.
A litsa inclui o vencedor da Palma de Ouro "Anora" (6 nomeações), o vencedor do Prémio do Júri "Emília Pérez" (13) e "A Substância" (5), cuja realizadora Coralie Fargeat recebeu o prémio de Melhor Argumento na Croisette.
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