O cinema de expressão alemã regressa ao Cinema São Jorge, em Lisboa, entre 29 de janeiro e 5 de fevereiro, para apresentar 20 filmes que dialogam “em rima” e que olham para os emigrantes portugueses, anunciou a organização na segunda-feira (20).
A 17.ª edição da Kino – Mostra de Cinema de Expressão Alemã destacam este ano na sua programação o tema das “rimas, que aproximam", desde logo, os filmes de abertura — “Lara” [foto], de Jan-Ole Gerster — e de encerramento — “Das Vorspiel” ["As preliminares", em tradução literal], de Ina Weisse.
Em ambos os filmes, as personagens principais – interpretadas pelas atrizes alemãs Corinna Harfouch e Nina Hoss - são mulheres que interrompem as suas promissoras carreiras musicais, vendo-se obrigadas a enfrentar, de forma distinta, a frustração.
A fragilidade das relações familiares é outro tema presente em vários filmes desta edição da Kino, como acontece no ‘thriller’ “Atlas”, filme de estreia de David Nawrath, em “Der Läufer” ("O corredor", em tradução livre), do jovem realizador Hannes Baumgartner, ou no drama psicológico “Der Boden unter den Füßen” ("O chão debaixo dos pés", em tradução livre), de Marie Kreutzer.
Este tema atravessa igualmente “Systemsprenger” ("System crasher", como apresentado no festival de Berlim, há um ano), de Nora Fingscheidt, um filme com um pé no tumulto familiar e outro na vulnerabilidade da infância, e “Kinder” ("Crianças"), de Nina Wesemann, um filme com um olhar mais documental.
O ciclo de cinema alemão olha também para a emigração, colocando em destaque a questão da adaptação dos imigrantes às sociedades que os acolhem, como é o caso de “Eldorado”, um documentário que acompanha quatro emigrantes portugueses no Luxemburgo, e de “Oray”, um filme de ficção que olha, por vezes, de forma quase documental, para as circunstâncias de vida de jovens turcos na Alemanha.
A paisagem como personagem cria rimas entre dois outros filmes: “Ralfs Farben”, de Lukas Marxt, centrado na ilha de Lanzarote, e “Lillian”, de Andreas Horvath, focado nos Estados Unidos da América, de costa a costa.
No que respeita a documentários, “Space Dogs”, da dupla de realizadores austríacos Elsa Kremser e Levin Peter, é um filme que a organização do festival destaca pela “originalidade” do olhar sobre as “várias formas de violência, por vezes quase insuportável, perpetrada sobre os animais”.
Dando continuidade àquela que é uma das principais características da mostra Kino – divulgação de novas vozes do cinema de língua alemã – a programação deste ano inclui oito primeiras obras, entre as quais as estreias na longa-metragem de Miriam Bliese, com “Die Einzelteile der Liebe” ("As peças do amor", em tradução livre), e Luzie Loose, “Schwimmen” ("Natação"), ambas presentes durante a Kino.
Os dois filmes destacam-se não apenas por experimentar novas vias formais, mas também por abordar temas contemporâneos, como a identidade digital dos adolescentes ou os novos conceitos de família.
Este ano, o secção Foco dá a descobrir o cinema de um dos mais importantes cineastas da Escola de Berlim, Ulrich Köhler, de quem será exibia não só a sua mais recente obra, “Um Ano Voluntário” - coassinada por Henner Winckler e estreada no último Festival de Locarno -, como todas as suas longas-metragens.
Ulrich Köhler pertence a uma geração de cineastas de diferentes estilos, formações e origens, que deu nova vida ao cinema alemão, e que ficou conhecido pela crítica alemã como Escola de Berlim.
Desde a sua primeira longa-metragem (“Bungalow”, 2002) que o cinema de Köhler foi caracterizado como "incursão da realidade no cinema alemão".
O seu segundo filme, “Montag kommen die Fenster” ("As janelas chegam na segunda-feira", em tradução livre, 2006), bem como o anterior, volta a ser apresentado numa das secções paralelas da Berlinale.
Com o objetivo de reforçar a Kino como uma plataforma para o cinema jovem, a edição de 2020 introduz um modelo de encontro informal entre jovens cineastas alemães e portugueses, marcado para 2 de fevereiro, para o qual está já a decorrer o ‘open call’.
Este ano, decorrerá também a segunda edição do Prémio do Público, uma sessão para famílias e um encontro de programadores, com o objetivo de criar um programa itinerante em parceria com promotores locais, chegando assim a um público mais amplo um pouco por todo o país.
A Kino - seleção do cinema recente dos países de língua alemã (Alemanha, Áustria, Suíça e Luxemburgo) que mais se destacou no último ano - é promovida pelo Goethe-Institut Portugal e é organizada em parceria com as embaixadas da Áustria, Suíça e Luxemburgo.
Este ano, a programação é assegurada por Corinna Lawrenz, responsável pela programação de cinema do Goethe-Institut de Lisboa, e por Carlos Nogueira, curador e crítico.
Comentários