O cineasta Manuel Carvalheiro, autor da curta-metragem "Amores da Salazar", com Io Apolloni, morreu no domingo, aos 68 anos, disse hoje à Lusa a filha do cineasta.
Manuel Carvalheiro, que foi ensaísta, cronista e crítico de cinema, colaborou com o Diário de Lisboa, O Século, jornal República, Seara Nova e Cahiers du Cinéma, entre outras publicações literárias, e escreveu, em 1989, "As Mutações do Cinema no Tempo do Vídeo".
Em 1981, dirigiu "Abecedário", uma entrevista ao realizador brasileiro Glauber Rocha (1937-1981), uma obra recorrentemente citada em estudos sobre o protagonista do Cinema Novo no Brasil.
Natural de Lisboa, Manuel Carvalheiro cresceu em Luanda, no seio de uma família intelectual antifascista.
O cineasta recusou-se a participar na guerra colonial e partiu para Paris para estudar Cinema, na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), onde fez o doutoramento, em 1977, sob a direção do teórico de cinema Christian Metz (1931-1993).
A partir de 1972, Manuel Carvalheiro participou como correspondente de cinema nos festivais internacionais de Cannes, Veneza, Berlim, Grenoble e Karlovy Vary.
Em Cannes, travou conhecimento com cineastas e artistas do Novo Cinema Português emergente, como os realizadores António da Cunha Telles, António de Macedo, António-Pedro Vasconcelos e a atriz Maria Cabral. Participou ainda, regularmente, no antigo Festróia, Festival Internacional de Cinema de Troia (1985-2014).
De 1976 a 1985, Manuel Carvalheiro realizou cerca de uma dezena de curtas-metragens, entre as quais se destacam "Experiências" (1979), "Monólogos Femininos" (1980), "Inglês Sem Mestre" (1981), "À Volta de Washington Square" (1982), "O Analfabeto" (1982), "O Paraíso Terrestre - Karl Marx" (1984), "Yoknapatawpha" (1984) e "Inquérito" (1985), além de "Amores da Salazar" e "Abecedário", sobre o cineasta, ator e escritor brasileiro.
Pouco tempo depois desta entrevista, Manuel Carvalheiro acolheu em Lisboa o realizador de "Terra em Transe" (1967), que ajudou a fixar-se em Sintra, com a família, quando a ditadura militar ainda imperava no Brasil.
Em 1976, Manuel Carvalheiro foi responsável pela realização de “Diário de uma Contaminada”, interpretado pela atriz Lídia Franco.
“Amores de Salazar”, filme com Io Apolloni, em que trabalhou com o diretor de fotografia Manuel Costa e Silva, data de 1981.
No final da década de 1990, levou a concurso vários documentários, entre os quais “A UNESCO e a Expo 98 – No Ano Internacional dos Oceanos (1997)”.
Manuel Carvalheiro representou Portugal na Confederação Internacional dos Cinemas de Arte e Ensaio.
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