Morreu aos 79 anos Douglas Trumbull, pioneiro e lenda dos efeitos visuais dos filmes "2001: Odisseia no Espaço", "Encontros Imediatos do Terceiro Grau", o primeiro "Star Trek" no cinema e "Blade Runner".

Segundo informou a sua filha Amy Trumbull nas redes sociais, o ainda realizador e produtor morreu na segunda-feira à noite após "uma grande luta de dois anos com um cancro, um tumor no cérebro e um AVC".

Foi Douglas Trumbull que criou a célebre "Star Gate Sequence" no final de "2001: Odisseia no Espaço" (1968), numa era em que não existiam as imagens geradas por computador (CGI). E foi ele que, mais de 40 anos mais tarde, foi convencido a abandonar a reforma por Terrence Malick para ser consultor de efeitos visuais em "A Árvore da Vida" (2011) e criou os elementos da estonteante sequência inicial de 20 minutos que mostrava a criação da vida.

VEJA A CENA DE 2001.

VEJA DOUGLAS TRUMBULL A FALAR SOBRE A SEQUÊNCIA DE "A ÁRVORE DA VIDA".

Outra contribuição menos conhecida para o legado duradoiro de "2001" foi a sugestão de matar os membros da tripulação em hibernação, inicialmente recebida com indignação e depois acolhida por Stanley Kubrick com a "ajuda" do computador HALL 9000.

Nascido a 8 de abrild e 1942, filho de Donald Trumbull, que trabalhou em efeitos visuais em "O Feiticeiro de Oz" (1939), Douglas Trumbull desde muito novo se habituou a recriar de forma prática os efeitos que via nos seus filmes preferidos, principalmente de ficção científica.

A reputação criada com "2001" lançou a carreira e nos anos 1970, após "A Ameaça de Andrómeda" (1971), o seu trabalho era tão requisitado, mesmo para projetos que acabaram por não se concretizar (como uma versão de "Dune" do chileno Jodorowsky), que teve de recusar a proposta para George Lucas e sugerir o seu assistente John Dykstra para ficar à frente da empresa de efeitos visuais que era necessário criar para a produção de "A Guerra das Estrelas", que se viria a chamar Industrial Light & Magic.

Por essa altura, Trumbull já se tinha comprometido com Steven Spielberg para integrar a equipa de "Encontros Imediatos do Terceiro Grau" (1977), que viria a ser a sua primeira nomeação para os Óscares.

A segunda seria dois anos mais tarde, quando respondeu a um pedido urgente da Paramount para o primeiro filme "Star Trek" para o cinema ("O Caminho das Estrelas" em Portugal), realizado pelo lendário Robert Wise, após ter sido despedida a equipa de efeitos visuais.

Trumbull, que já se tinha estreado como realizador com o filme pós-apocalíptico "O Cosmonauta Perdido" ("Silent Running", 1972), recordaria mais tarde que Wise confiara nele implicitamente como um "colega" para salvar o filme: com o estúdio sob a ameaça de processos judiciais dos exibidores se a data de estreia não fosse cumprida, a sua equipa trabalhou 24 horas por dia, sete dias por semana, para criar em cerca de cinco meses mais efeitos visuais do que os de "Star Wars" e "Encontros Imediatos..." somados, e que tinham demorado anos a completar.

Wise também autorizou Trumbull a reformular e realizar aquela que viria ser a sequência mais famosa, a da cápsula espacial com o Capitão Kirk e Scott a circular à volta da Enterprise antes de atracar, sem diálogos.

VEJA A CENA.

Em 1982, Trumbull foi nomeado pela terceira vez como um dos supervisores dos efeitos visuais de "Blade Runner: Perigo Iminente", de Ridley Scott (1982), ajudando a criar a paisagem urbana sombria e distópica de Los Angeles de 2019, incluindo a famosa abertura, com as bolas de fogo a explodir, e o conceito de projetar imagens em edifícios, mas saiu para fazer o segundo filme como realizador, "Projecto Brainstorm" (1983).

O projeto acabou por ser assombrado pela morte por afogamento em circunstâncias nunca completamente esclarecidas da protagonista Natalie Wood durante a produção e só estreou nos cinemas após uma longa batalha legal, acontecimentos que o levaram a abandonar a indústria.

A partir daí e apesar de privilegiar os efeitos práticos, redirecionou o seu espírito inventivo para o desenvolvimento de novas tecnologias para o cinema, que lhe valeram dois Óscares técnicos, um Científico e de Engenharia em 1993, e o Gordon E. Sawyer em 2012, e para parques temáticos, nomeadamente para a atração "Regresso ao Futuro" da Universal Studios na Flórida.