A organização do Tribeca Festival Lisboa recebeu 750 mil euros de apoios públicos, incluindo 250 mil do município lisboeta, tendo a vereadora do BE questionado o presidente da autarquia sobre o motivo de não ter sido aprovado pela câmara.
Num requerimento ao presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), a vereadora do Bloco de Esquerda (BE) refere que foi divulgado que a estação televisiva SIC, do grupo de comunicação social Impresa, “recebeu 750 mil euros de fundos públicos para organizar” o Tribeca Festival Lisboa.
Os apoios foram concedidos pelo Turismo de Portugal (250 mil euros), tutelado pelo Ministério da Economia, Associação de Turismo de Lisboa (250 mil), da qual é um dos associados fundadores o município de Lisboa, e a empresa municipal EGEAC (250 mil), que gere os equipamentos e animação cultural de Lisboa.
“Este apoio foi atribuído sem que houvesse uma decisão pública ou deliberação em reunião de câmara”, apontou Beatriz Gomes Dias, constatando que “o preço de acesso a este festival foi de 130 euros para dois dias, um preço inacessível para a maioria dos lisboetas”.
“Mesmo com estes apoios, o evento deu prejuízo de 360 mil euros porque a SIC alega que gastou meio milhão em palcos e geradores”, acrescentou a vereadora do BE, requerendo a Carlos Moedas que esclareça “quais foram os critérios e procedimentos utilizados para aprovar este apoio financeiro”.
A autarca questionou ainda qual o motivo por não ter sido “votada em reunião de câmara a aprovação deste apoio”, “que balanço se faz deste festival e que contributo deu para a produção e divulgação cultural, tendo em conta o apoio público disponibilizado”, quando “já foi anunciada a edição para o próximo ano com apoio da CML [Câmara Municipal de Lisboa]”.
As questões da vereadora tiveram origem numa notícia de hoje da Sábado, que cita o relatório de execução financeira do Tribeca Festival Lisboa, remetido pela SIC/Impresa à EGEAC para receber os 250 mil euros do apoio ao festival, que decorreu em 18 e 19 de outubro no Hub Criativo do Beato.
Segundo a revista, a câmara organizou também “um jantar privado” com atores e apresentadores, com base em fotos partilhadas nas redes sociais ao lado do ator Robert De Niro, admitindo tratar-se de uma despesa que consta no portal Base, de 6.230 euros, adjudicada por ajuste direto à empresa As Patrícias – Food at Home para “aquisição de um jantar para o evento Tribeca Film Festival”.
Além dos apoios públicos, o Tribeca teve 615 mil euros de patrocínios, 95.985 euros de bilheteira e 3.389 euros de comida e bebidas, totalizando 1.464.374 euros de receitas, mas as despesas somaram 1.825.168 euros, resultando num prejuízo de 360.794 euros.
Fonte oficial da Associação de Turismo de Lisboa, presidida por inerência por Carlos Moedas, enquanto presidente da câmara, confirmou à Lusa que “foi aprovada uma candidatura no valor de 250 mil euros, ao abrigo do Programa de Apoio a Eventos Promocionais” para o Tribeca.
O regulamento do programa prevê o apoio a eventos que “demonstrem relevância turística e capacidade de gerar fluxos turísticos”, ou que pelo “seu posicionamento ou imagem internacional, possam aumentar a notoriedade ou projetar a imagem da marca Lisboa”.
O apoio da ATL será no máximo de 40% do custo total do evento, com um limite máximo de 400 mil euros, e não são apoiadas despesas com transportes, alojamentos, refeições e outros encargos com pessoal.
A Lusa questionou a Câmara de Lisboa sobre o balanço do festival e eventuais outros apoios financeiros e logísticos prestados pelo município, mas ainda não obteve resposta.
O Turismo de Portugal, responsável pela promoção, valorização e sustentabilidade da atividade turística, na tutela do Ministério da Economia, também não esclareceu que balanço faz do festival.
"Este foi um grande momento de cultura na cidade de Lisboa e do país. Colocámos Lisboa na rota dos grandes festivais internacionais. Todos os apoios que foram dados são públicos, num processo transparente. A SIC vai continuar a apoiar iniciativas que promovam a cultura", afirmou à Lusa fonte oficial da estação de Carnaxide, confirmando os números no relatório enviado à EGEAC.
O ator Robert De Niro e a produtora Jane Rosenthal elogiaram Lisboa como anfitriã, pela primeira vez a nível internacional, do festival Tribeca, que fundaram em Nova Iorque (EUA), mas não revelaram por quantas edições ficará em Portugal.
Num encontro com os ‘media’ portugueses, sem direito a perguntas, estiveram presentes ainda a realizadora Patty Jenkins, a atriz Whoopy Goldberg ou o ator Chazz Palminteri, além de Francisco Pedro Balsemão, responsável do grupo Impresa, e Carlos Moedas.
Durante dois dias, no Hub Criativo do Beato, o programa do Tribeca contou com sessões de cinema, concertos, gravação de ‘podcasts’ e muitas conversas com algumas figuras de Hollywood e pessoas do entretenimento em Portugal.
Mas as deficientes condições de exibição e a reduzida oferta de filmes, além do preço elevado dos bilhetes, motivaram algumas críticas de participantes no evento.
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