A angústia juvenil dos anos 80 tem um retratista inultrapassável no cinema norte-americano:
John Hughes que, como argumentista, realizador e produtor, deixou plasmadas em celulóide histórias de adolescentes de apelo universal, com todas as alegrias e tristezas próprias de uma vida em transição. Entre
«Dezasseis Primaveras» e
«A Pequena Endiabrada», os filmes que realizou marcaram várias gerações e, caso raro no caso da comédia maioritariamente juvenil, ganharam o apreço generalizado da crítica. Hughes, que se encontrava há algum tempo afastado do cinema, faleceu inesperadamente de ataque cardíaco quando passeava de manhã em Manhattan.

As suas primeiras experiências profissionais foram na área da escrita, que nunca abandonou, com «gags» para humoristas como
Rodney Dangerfield e histórias para revistas como a «National Lampoon». O seu primeiro argumento,
«Reunião de Classe» (1982), foi precisamente para um filme iniciado pela série National Lampoon e foi um fracasso, mas o seguinte,
«Que Paródia de Férias» (1983), na mesma veia, foi um sucesso e lançou Hughes numa carreira fulgurante.

Em 1984, estreou-se na realização com um argumento de sua autoria, que se revelou um êxito notável de público e crítica:
«Dezasseis Primaveras». Em contraste com as comédias adolescentes brejeiras que se faziam por aquela época, o filme fez um retrato certeiro da vivência de liceu da época e ainda hoje é um dos símbolos da juventude dos anos 80. Além de iniciar o seu ciclo de comédias de liceu,
«16 Primaveras» lançou também para a posteridade
Molly Ringwald e
Anthony Michael Hall, dois dos elementos do chamado Brat Pack dos anos 80, o grupo de actores jovens que na altura dava cartas em Hollywood.

O Brat Pack integrava também os intérpretes do seu filme seguinte, o incontornável
«O Clube», com
Emílio Estevez,
Molly Ringwald,
Judd Nelson,
Ally Sheedy e
Anthony Michael Hall de castigo numa sala do liceu.

Ainda no liceu, ou em redor dele, se localizaram as suas fitas seguintes,
«Que Loucura de Mulher» (1985),
«A Garota do Vestido Cor de Rosa» (1986) e aquela que seria porventura a sua obra mais amada,
«O Rei dos Gazeteiros» (1986), com
Matthew Broderick imortalizado na figura do folião Ferris Bueler.

A partir daí, Hughes quis variar da comédia juvenil e seguiu outras vias no campo do humor, sempre com sucesso. Começou logo por
«Antes Só que Mal Acompanhado» (1987), com
Steve Martin a ver-se forçado a ter o incómodo
John Candy como companheiro de viagem, e seguiu com filmes como
«She’s Having a Baby» (1988), sobre o início da vida de casado,
«O Meu Tio Solteiro» (1989), com Candy a ver-se forçado a tomar conta dos sobrinhos, concluindo a sua carreira de realizador com
«A Pequena Endiabrada» (1991), com um pai e uma filha pequena a comporem uma peculiar dupla de vigaristas.

Mesmo assim, a sua carreira de argumentista não se deteve e, acrescida à de produtor, que arrancou com
«O Clube», valeu-lhe ainda muitos outros sucessos, o mais importante dos quais foi
«Sozinho em Casa» (1990), realizado por
Chris Columbus a partir de um argumento de sua autoria, que atirou o então jovem
Macauley Culkin para o estrelato mundial, e foi o maior êxito da obra de Hughes.

A partir daí, manteve-se como argumentista e produtor de fitas menos felizes como
«Beethoven» (1992),
«Dennis, o Pimentinha» (1993),
«Os 101 Dálmatas» (1996) ou
«Flubber» (1997), sem o mesmo sucesso popular.

A partir de 1994, mudou-se para o Wisconsin, foi espaçando progressivamente as suas aparições públicas e dedicou-se à agricultura. As razões do seu afastamento do cinema nunca foram completamente esclarecidas.