«JCVD» é o momento de redenção para
Jean-Claude Van Damme, por todos os anos em que, no cinema, não foi mais do que uma máquina de matar sem grande actividade cerebral. Talvez por falar a sua língua natal, o francês, e por interpretar uma personagem inspirada na sua própria vida, o actor belga confessa-se, redime-se e tem o seu momento de libertação no filme que hoje ao fim da tarde passa no
IndieLisboa.

Na fita de
Mabrouk El Mechri, não se pode dizer que Van Damme seja ele próprio já que nem todos os factos são verdadeiros e porque, em última análise, «JCVD» é uma obra de ficção. Mas, se diferenças há em relação à vida do actor belga celebrizado pelos seus filmes de acção elas são mínimas.

No filme, Jean-Claude Van Damme, um actor sem sorte e à beira da falência, vê a sua vida em retrospectiva durante um assalto a um banco. Na sua cidade-natal todos os conhecem e todos o acarinham com a um ícone nacional mas ele enfrenta a dura realidade de um difícil divórcio, de ter perdido um papel para
Steven Seagal por este ter prometido cortar o rabo-de-cavalo
on screen e de, ainda por cima, se ver metido no meio de uma embrulhada num assalto a um banco.

Mas ali, num cenário conturbado, com uma sinceridade digna do mais nobre dos actores e um
fair-play de quem está bem consigo próprio, Van Damme goza com a sua imagem, mostra que ainda sabe pontapear a altitudes inacreditáveis e dá ao espectador uma cena com um monólogo confessional inesquecível. Tudo isto numa língua que o faz soar muito mais credível do que o seu atabalhoado inglês.

Van Damme celebrizou-se por filmes onde aplicava os seus talentos de karaté e fazia os seus músculos brilhar mas deixou a sua imagem demasiado colada a esses dotes.
«Máquinas de Guerra» ou
«Patrulha do Tempo», ainda que mal recebidos pela crítica, deram-lhe a fama junto do público mas, depois de
«Street Fighter - A Batalha Final» o actor viu quase todos os seus filmes passarem directamente para o mercado de DVD. Em 2008 «JCVD» foi excepção e surpreendeu até os mais cépticos.

Para aqueles que olharam para a programação do IndieLisboa e viram com desconfiança a presença de «JCVD», nada melhor do assistir a Jean-Claude Van Damme no confessionário, às sete da tarde de hoje no Cinema São Jorge em Lisboa.