Alan Moore continua desencantado com o género que ajudou a credibilizar graças ao caráter adulto de obras incontornáveis como "Watchmen", "V de Vingança", "A Liga de Cavalheiros Extraordinários", "Do Inferno" ou "Batman: A Piada Mortal".

Há vários anos praticamente retirado da vida pública e a viver na cidade inglesa de Northampton, o lendário autor de banda desenhada reaparece ocasionalmente em entrevistas onde revela o seu desânimo com o grande domínio dos super-heróis e dos seus fãs na cultura popular.

Uma recente entrevista ao jornal The Guardian não é exceção: "Centenas de milhares de adultos fazem fila para ver personagens e situações criadas para entreter os rapazes de 12 anos– e 'foi' sempre rapazes – de há 50 anos. Na verdade, nunca achei que os super-heróis fossem um produto para adultos. Acho que isso foi um mal entendido que nasceu do que aconteceu nos anos 1980 – no qual tenho uma parte considerável da culpa, embora não tenha sido intencional –, quando apareceram coisas como 'Watchmen'. Houve uma enorme quantidade de manchetes a dizer 'A banda desenhada amadureceu'".

Alan Moore não acredita: "Tendo a pensar que a banda desenhada não amadureceu. Houve alguns títulos que eram mais adultos do que as pessoas estavam habituadas. Mas a maioria da banda desenhada era praticamente o que sempre foi. Não se tratava da banda desenhada a amadurecer. Acho que foi mais a banda desenhada a ir ao encontro da idade emocional do público que vinha de outra direção".

O autor deixe um aviso pessimista sobre a infantilização que descreve e que acredita prolongar-se nas adaptações ao cinema: "Por volta de 2011, disse que achava que o facto de milhões de adultos fazerem fila para ver os filmes 'Batman' tinha implicações sérias e preocupantes para o futuro. Porque esse tipo de infantilização – esse desejo por tempos mais simples, por realidades mais simples – pode muito bem ser um precursor do fascismo".

A sustentar a sua teoria, o autor recorda que os filmes de super-heróis foram os maiores sucessos de bilheteira em 2016, o ano em Donald Trump foi eleito presidente dos EUA e "houve um estranho desvio" nas políticas da Grã-Bretanha, numa referência ao Brexit.

O que ajuda a explicar o seu "divórcio" com o género: "Acabei definitivamente com a banda desenhada. Há cinco anos que não escrevo uma para seguir em frente. Amarei e adorarei sempre o meio da banda desenhada, mas a indústria e todas as coisas ligadas a ela tornaram-se insuportáveis".