
A Ucrânia estará presente na 75.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, com dois cineastas de gerações diferentes dispostos a narrar o passado e o presente difícil daquele país.
"Os filmes continuam a ser feitos em todo o mundo, mesmo em países como a Ucrânia", embora "o cinema não seja a principal preocupação neste momento momento", explicou Thierry Frémaux, o delegado-geral do evento, durante a conferência de imprensa desta quinta-feira onde foram anunciados os filmes nas principais secções.
"É claro que a questão da guerra na Ucrânia estará presente em todos os corações e também, espero, nos corações dos participantes", disse.
Os dois realizadores ucranianos, que participarão fora do circuito competitivo, são Sergey Loznitsa e Maksym Nakonechnyi.
O primeiro, veterano do cinema desta ex-república soviética, apresenta "The Natural History of Destruction", baseado num texto do ensaísta alemão W.G. Sebald (1944-2001), descrevendo a destruição maciça de cidades alemãs durante os ataques aéreos aliados na Segunda Guerra Mundial.
Loznitsa, de 57 anos, tem sido regularmente convidado para Cannes com filmes como "A Praça", sobre a revolução de 2014, ou "Donbass". No ano passado, apresentou "Babi Yar. Context", sobre o massacre de mais de 300 mil judeus em 1941, a oeste de Kyiv.
Quando eclodiu a invasão da Ucrânia, o cineasta comparou a Rússia de hoje à União Soviética.
"Pode-se dizer que [a Rússia] aplica exatamente os mesmos métodos com as repúblicas à sua volta", afirmou à France-Presse.
Por sua vez, o jovem realizador Maksym Nakonechnyi apresenta na secção "A Certain Regard" o filme "Bachennya Metelyka", ambientado na guerra de Donbass, de 2014, nos territórios pró-russos do leste da Ucrânia, que é considerada o prelúdio da atual invasão.
Segundo Thierry Frémaux, o filme narra a vida de um jovem professor "que participou na guerra e foi sequestrado" e que "regressa ao país graças a uma troca de prisioneiros"
Opositores russos ao conflito são bem-vindos
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No início de março, Cannes anunciou que não receberia delegações russas ou qualquer presença relacionada com o governo daquele país durante a invasão da Ucrânia.
Uma medida que não se aplica aos artistas que se opõem ao regime.
É o caso do realizador russo Kirill Serebrennikov, de 52 anos, conhecido pelas suas posições a favor da comunidade LGBT+, que já participou duas vezes no circuito de competições pela Palma de Ouro de Cannes.
Desta vez, ele concorre com "Tchaikovsky's Wife", sobre a vida do compositor russo Pyotr Tchaikovsky e a sua esposa.
Serebrennikov nunca conseguiu ir a Cannes, nem para "Verão" (2018) nem para "Petrov's Flu" (2021), pois não podia deixar a Rússia por causa de uma condenação por desvio de verbas na sequência de um processo que os seus defensores dizem ter contornos políticios.
Artista multifacetado, Serebrennikov confirmou à AFP a 1 de abril que conseguiu sair legalmente da Rússia e estava em Berlim, depois de ter a sua pena reduzida.
Atualmente, ele trabalha na Ópera de Amesterdão com a peça "Der Freischütz" ("O Atirador"), do compositor Carl Maria von Weber.
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