
A história do economista carioca de 28 anos que decidiu dar a volta ao mundo antes de retomar os seus estudos numa prestigiada universidade americana comoveu o Brasil. Quando estava prestes a terminar a sua aventura, em 17 de julho de 2009, desapareceu.
As autoridades levaram quase 20 dias para encontrar o seu corpo no monte Mulanje, no sul do Maláui, onde tinha morrido de hipotermia.
Barbosa, que apresenta "Gabriel e a Montanha" na seção paralela da Semana da Crítica, conta - em entrevista à AFP - que o desaparecimento o "afetou muito".
"Era meu amigo desde a infância", afirmou.
O cineasta decidiu, então, reconstruir os últimos 70 dias da vida do seu amigo, desde que chegou ao Quénia até ao seu trágico fim no Maláui, passando pelo Uganda e pela Tanzânia. A viagem ajudaria Buchmann a estudar a pobreza no continente africano.
Para isso, Barbosa procurou "seguir os seus passos" exaustivamente.
"Usei muito as fotos dele, que se encontraram (na câmara) junto ao seu corpo, o seu caderno de viagens e os e-mails" que enviou para amigos e familiares.
Nessas mensagens, Buchmann diz que "está muito feliz", "a viver grandes aventuras e a realizar uma viagem de profunda imersão no continente africano, absolutamente não turística, e de forma totalmente sustentável".
Várias pessoas que conheceram o jovem durante a sua viagem em 2009 aparecem no filme, interpretando-se a si próprias: um guia de montanha chamado John Goodluck; Luke Mpata, um camionista que o hospedou em sua casa; ou Lewis Gadson, o último guia que o viu com vida, antes de decidir seguir sozinho para o topo do Mulanje.
Encontrar estas 13 pessoas "foi um trabalho enorme", explica o cineasta.
"Em quatro meses, fiz mais de 8.000 km em transportes públicos. Foi muito duro, até perigoso", mas "as pessoas eram magníficas (...) com muito carisma", como se o seu amigo tivesse "feito um casting", brinca o realizador.
Para ele, outra tarefa difícil foi construir a personagem, porque queria mostrá-la em todas as suas dimensões, não apenas do ponto de vista positivo.
"É alguém muito contraditório. Um pouco egoísta, arrogante, imprudente, mas com um grande coração, sem cinismo", afirma.
"Acredito que o Gabriel tenha morrido de felicidade. Estava obcecado com a felicidade, com a pureza da vida", conclui.
"Gabriel e a Montanha" é a segunda longa-metragem de Barbosa, depois de "Casa Grande", um filme que circulou pelos festivais de Roterdão e San Sebastián.
Para o seu próximo projeto, Barbosa pensa numa história menos pessoal, centrada numa família conservadora brasileira em declínio. Começa em 1 de janeiro de 2003, dia da posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência. Um filme menos pessoal, mas muito mais político.
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