Estava nomeado em 11 categorias e recebeu dois prémios: "Ela" partia como um dos favoritos e acabou por ser o surpreendente vencedor dos Prémios César, entregues sexta-feira à noite em Paris.

O controverso filme sobre uma mulher que reage de forma inesperada após ser violada parecia destinado a ser um dos grandes derrotados da noite: perdeu tudo até Isabelle Huppert receber o César de Melhor Atriz, uma distinção que acontece apenas pela segunda vez na carreira, apesar das 16 nomeações (um recorde).

A estrela, que estará dentro de dois dias na cerimónia dos Óscares em Los Angeles, agradeceu a "Paul Verhoeven, que dirigiu este filme de forma tão audaciosa e maliciosa".

Alguns minutos mais tarde, foi a vez do realizador holandês retribuir os elogios ao receber o prémio principal das mãos de Pedro Almodóvar, referindo que "elevou este filme a um nível superior que eu não vi. Amo-te".

O melhor ator foi Gaspard Ulliel por "Tão Só o Fim do Mundo", que ainda ganhou dois importantes prémios, Realização (Xavier Dolan) e Montagem.

Outro grande vencedor foi "Divines": Melhor Primeiro Filme, Atriz Secundária (Déborah Lukumuena) e Esperança Feminina (Oulaya Amamra).

"Frantz", de François Ozon, que tinha 11 nomeações, apenas ganhou pela fotografia.

Ao contrário do que tem acontecido nos EUA, onde as estrelas têm usado frequentemente a sua presença em palco para fazerem discursos anti-Trump, na cerimónia dos César o tom foi mais intimista... até ao momento em que George Clooney recebeu um prémio pela carreira das mãos de Jean Dujardin.

Ao mesmo tempo que o discurso previamente preparado surgia legendado, o ator francês,  com quem Clooney trabalhou em "Monuments Men - Caçadores de Tesouros" (2014), fazia uma tradução muito pessoal e abreviada das palavras do seu amigo.

Quando o americano prestava homenagem a todas as pessoas com quem trabalhou e que o ensinaram "a honra que era trabalhar no cinema", a tradução acabou por ser "Donald Trump é um perigo para o mundo"; quando deu os parabéns aos profissionais presentes pelo seu trabalho no último ano e voltou a exprimir a gratidão pelo prémio, em francês saiu "prometo que as coisas vão mudar em 2020 com Kayne West como presidente".

Dujardin "confundiu" ainda sistematicamente o apelido do inquilino da Casa Branca: por exemplo, quando o americano disse "o amor triunfa [trumps] sobre o ódio" ou "a coragem triunfa [trumps] sobre o medo", o que ficou foi "Trump ama o ódio" e "Trump tem medo".

O tom ficou a seguir mais sério, com George Clooney a evocar Edward R. Murrow, que retratou em "Boa Noite, e Boa Sorte" (2005), "num momento em que estamos nostálgicos por um tempo em que a América era grande e as notícias não eram falsas".

Após defender que não se pode ceder ao medo e que "não podemos defender a liberdade no exterior quando a perdemos em casa", concluiu: "As ações deste presidente causaram alarme e consternação nos nossos aliados e deram considerável conforto aos nossos inimigos. E de quem é a culpa disso? Não é realmente dele. Ele não criou esta situação de medo, meramente explorou-a e com bastante sucesso. Cassius tinha razão, 'A culpa, caro Brutus, não está nas nossas estrelas, mas em nós mesmos'. Boa noite e boa sorte".

Paródia a "La La Land" por parte do "mestre de cerimónia" Jérôme Commandeur e Marthe Villalonga.

Ovação a Jean-Paul Belmondo (prémio de carreira)

MELHOR FILME
ELA

MELHOR PRIMEIRO FILME
Divines

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Ma Vie de Courgette

MELHOR REALIZAÇÃO
Xavier Dolan (Tão Só o Fim do Mundo)

MELHOR ATOR
Gaspard Ulliel (Tão Só o Fim do Mundo)

MELHOR ATRIZ
Isabelle Huppert (Ela)

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO
James Thierrée (Chocolat)

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA
Déborah Lukumuena (Divines)

MELHOR ESPERANÇA MASCULINA
Niels Schneider (Diamant Noir)

MELHOR ESPERANÇA FEMININA
Oulaya Amamra (Divines)

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Eu Daniel Blake (Grã-Bretanha)

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
L'effet aquatique

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
Ma Vie de Courgette

MELHOR MONTAGEM
Tão Só o Fim do Mundo

MELHOR FOTOGRAFIA
Frantz

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Chocolat

MELHOR GUARDA-ROUPA
A Dançarina

MELHOR BANDA SONORA
Dans les Forêts de Sibérie

MELHOR SOM
L'Odyssée

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Merci Patron

MELHOR CURTA-METRAGEM
Maman(s)
Vers la Tendresse

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
Celui qui a deux âmes