Johnny Depp reconheceu que está a ser boicotado por Hollywood na primeira entrevista desde que perdeu em novembro de 2020 um muito mediático caso de difamação contra o tablóide britânico The Sun.

Após o tribunal ter dado como provadas 12 das 14 acusações de violência doméstica num artigo de 2018 que usava a expressão "marido violento" contra a ex-mulher, Amber Heard, o ator teve que desistir do seu papel como o vilão Gellert Grindelwad no próximo filme da série "Monstros Fantásticos", sendo substituído pelo dinamarquês Mads Mikkelsen. Já este ano, perdeu o recurso para uma instância superior.

A batalha legal continua em abril de 2022, o que o impede de falar sobre o caso jurídico ou a relação com a atriz de "Aquaman", mas Depp descreveu ao jornal britânico Sunday Times [acesso pago] o tempo desde que foi acusado de violência doméstica como "cinco anos surreais" e a sua queda como um "absurdo da matemática dos media".

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O tema da entrevista foi o filme "Minamata", que, como destaca o jornal, não será lançado nos EUA, o que levou o seu realizador Andrew Levitas a acusar a MGM no mês passado de estar a "enterrá-lo" por causa dos escândalos pessoais que rodeiam o ator.

Depp interpreta W. Eugene Smith, um fotógrafo famoso pelos seus trabalhos de ensaio durante a Segunda Guerra Mundial que é convencido por um velho amigo e editor da revista Life a regressar ao Japão no início dos anos 70 para documentar um escândalo ambiental que viria a ser conhecido como o Desastre de Minamata, em que centenas de pessoas foram envenenadas naquela cidade costeira no Japão pela ação negligente de uma empresa durante décadas que seria encoberta também pelas autoridades.

Apesar de descrever os seus problemas como insignificantes em comparação com os dessas vítimas ou das "pessoas que sofreram com a COVID", Depp não deixa de lamentar que a sua associação com o filme, em que também é um dos produtores, esteja a desviar as atenções e com a distribuição afetada.

"Olhámos essas pessoas nos olhos e prometemos que não seríamos exploradores. Que o filme seria respeitador. Acho que mantivémos a nossa parte do acordo, mas aqueles que vieram depois também devem manter a deles. Alguns filmes tocam as pessoas e isto afeta aqueles em Minamata e pessoas que passam por coisas semelhantes. E por qualquer coisa... pelo boicote de Hollywood a mim? Um homem, um ator numa situação desagradável e complicada, ao longo dos últimos anos?", descreveu.

Recorde-se que o ator voltou à primeira linha mediática após festival de cinema de San Sebastián ter anunciado na semana passada a entrega de um prémio na edição que se realiza entre 17 e 25 setembro, o que foi condenado pela Associação espanhola de Mulheres Cineastas e de Meios Audiovisuais (CIMA, sigla em castelhano) condenou a decisão do festival.

Na última sexta-feira, o diretor do festival, José Luis Rebordinos, reafirmou o compromisso do evento no “combate à desigualdade, ao abuso de poder e à violência contra as mulheres”, mas salientou que “os compromissos éticos do festival não podem dizer apenas respeito aos problemas das mulheres numa sociedade patriarcal, apesar da terrível natureza da situação, em que centenas de mulheres são mortas todos os anos em resultado dos crimes de homens”.

"Quando o linchamento nas redes sociais é frequente, iremos sempre defender dois princípios básicos que formam parte da nossa cultura e do nosso corpo de leis: os da presunção de inocência e de reintegração. De acordo com as informações provadas que temos até ao momento, Johnny Depp não foi detido, acusado nem condenado por nenhuma forma de agressão ou violência contra qualquer mulher”, acrescentou.