O famoso diretor de teatro e cinema russo Kirill Serebrennikov admitiu que ficou surpreendido por ter recebido autorização para fazer uma curta viagem à Alemanha e desconhece a razão para as autoridades terem suspendido a proibição que o impedia de deixar o país.

"Talvez me tenha portado bem", disse ironicamente numa conferência na passada sexta-feira no teatro Thalia, em Hamburgo (norte da Alemanha), onde está a encenar a peça "O Monge Negro", baseada no conto fantástico de Anton Tchekhov.

O diretor, que chegou à Alemanha na segunda-feira, especificou que regressará à Rússia a 22 de janeiro, a noite da estreia da sua peça.

"Apresentámos o pedido oficial às autoridades a pedir que pudéssemos viajar para Hamburgo. E eles deram-nos a autorização para este projeto", acrescentou.

"Não sei nada" sobre o que motivou essa decisão, destacou, que surge após ter recebido várias recusas no passado para outros projetos.

O cineasta não pôde estar presente no Festival de Cinema de Cannes em julho, onde o seu filme "Petrov's Flu" ["A Febre de Petrov"] estava na corrida à Palma de Ouro, participando apenas através de teleconferência.

O produtor Ilya Stewart, os atores Yuri Kolokolnikov e Ivan Dorn, com Kirill Serebrennikov em Cannes em julho de 2021

Serebrennikov garantiu que regressará ao seu país: "devo voltar porque prometi".

Conhecido pelas suas criações ousadas, o seu apoio ao movimento LGBT+ e as suas críticas ao autoritarismo do governo de Vladimir Putin, o artista de 52 anos está proibido de deixar o território russo após ser condenado por desvio de fundos.

Os seus problemas com a justiça começaram em agosto de 2017, quando filmava "Leto", quando foi detido pela polícia e acusado de desviar verbas públicas.

Para os seus defensores, este artista audacioso, que já teve favores do poder, está a ser punido pela sua rebeldia.

Durante um ano e meio esteve em prisão domiciliária, sem acesso à internet e ao telefone. Recebeu e enviou mensagens através dos seus advogados em pendrives com vídeos dos ensaios dos seus espetáculos, montando assim uma ópera em Hamburgo.

Em junho de 2020, foi condenado a três anos de prisão condicional e proibido de deixar o país durante esse período. Em fevereiro de 2021, o presidente da câmara de Moscovo demitiu-o do Gogol Center.

O diretor e cineasta disse à France-Presse que a Rússia é o seu país: "Amo-a muito e tenho muitos amigos. Os meus sonhos estão sempre na Rússia".

Apesar das suas dificuldades, disse que sempre se sentiu livre.

"Ser livre faz parte do meu trabalho. É impossível trabalhar em arte ou teatro sem liberdade. Caso contrário, é propaganda ou outra coisa", disse.

"Nós carregamos a nossa liberdade dentro de nós. Não é algo que se recebe do exterior", acrescentou.