A Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, inicia no sábado um ciclo dedicado ao tema “Hospitalidade”, que reflete sobre o modo como a guerra, as migrações e os problemas dos refugiados têm sido tratados no cinema contemporâneo.
O ponto de situação sobre aquilo que se designa como cinema da hospitalidade será feito pela ensaísta e programadora de cinema de vanguarda na Cinemateca Francesa Nicole Brenez, explica hoje, em comunicado, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira/Fundação de Serralves.
Inserido no ciclo de cinema “Estetoscópio”, a iniciativa apresenta “uma seleção de filmes recentes que integram e põem em circulação as imagens da alteridade – nomeadamente, daqueles que deixaram de ter um lugar sobre a terra”.
“Colocando o foco no acolhimento, não se trata aqui apenas de um cinema que se predispõe à escuta, mas de um conjunto de filmes construídos em estreita parceria, e sob diferentes formas de colaboração, entre quem filma e quem é filmado”, sublinha a organização.
Refere ainda que se trata de “filmes que se confrontam com a proliferação mediática de imagens demasiado conotadas e familiares, de representações estereotipadas e estereotipantes, incitando-nos a olhar para as imagens que o outro constrói de si próprio”.
“Em oposição às multidões anónimas que vemos nos media, importa olhar para a singularidade dos indivíduos e das histórias pessoais que cada um transporta consigo – portanto, uma história feita de nomes próprios –, reunindo-os numa memória comum”, acrescenta.
Do programa fazem parte oito filmes, distribuídos por seis sessões, a realizar no sábado, no domingo e na segunda-feira.
As sessões enquadram-se, segundo a programadora Nicole Brenez, em três grandes soluções formais que têm vindo a desenvolver-se no cinema contemporâneo: o “acolhimento”, um cinema cuja construção do filme roda em torno das imagens de outrem; a “passagem”, onde os oprimidos/explorados realizam, eles próprios, o filme; e a “recolha”, onde se impõe uma filmografia construída à base de imagens de outrem, mas onde não impera o primado de nenhum ponto de vista.
A abertura do ciclo será precedida por uma conversa, pelas 18:00 de sábado, entre a programadora Nicole Brenez e António Preto, Diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, a que se seguirá a projeção de “La nuit remue”, do francês Bijan Anquetil.
“Newsreel 63 - The Train of Shadows”, do eslovaco Nika Autor e “1968: un archivo ciego”, um documentário, mudo, assinado pelo iraniano Bani Khoshnoudi, em colaboração com o sonoplasta mexicano Mario de Veja e o escritor também mexicano Carlos Prieto Acevedo, fecham o dia dedicado ao “acolhimento”.
“Meishi Street” (foto), do realizador chinês Ou Ning abre o dia dedicado à “passagem”, onde será acompanhado pelo documentário “Regardez chers parents”, do refugiado político costa-marfinense, radicado em França, Mory Coulibaly, e por “Le Pendule de Costel”, de Pilar Arcila.
“Les Sauteurs”, do germânico Moritz Siebert, que encerra o segundo dia, abre a porta ao terceiro e último tema do ciclo “Um Lugar Sobre a Terra: O Cinema da Hospitalidade”, dedicado à classificação formal da “recolha”, que encerra com a proposta do argentino Mauro Andrizzi, o documentário Iraqi Short Films.
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