A Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, vai traçar a história da relação criativa entre o cineasta que lhe dá nome e a escritora Agustina Bessa-Luís, numa exposição patente entre 1 de dezembro e 5 de junho.

“Esta parceria é talvez uma das mais importantes parcerias ou colaborações entre dois autores que trabalharam em áreas distintas. No contexto português é o caso mais marcante, sobretudo tendo em conta o calibre dos dois autores em questão. Que se reflete perfeitamente nas obras que daí resultaram”, disse à Lusa o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, António Preto, que foi curador da exposição, intitulada “O Princípio da Incerteza”.

Francisca

A exposição “percorre cronologicamente as obras que resultaram desta parceria” e “tenta aprofundar o próprio processo de construção dessa obra”, através da apresentação de documentos de trabalho, guiões, manuscritos, fotografias e outro material.

A relação entre os dois iniciou-se em 1981, com a adaptação do romance “Fanny Owen”, que dá origem ao filme “Francisca”, e prosseguiu até 2005, com a obra “Espelho Mágico”, de Oliveira (1908-2015), a partir de “A Alma dos Ricos”, de Agustina (1922-2019).

“Pelo meio existem outros oito textos da escritora que habitam a obra do realizador, onde se incluem três romances, dois diálogos, uma peça de teatro, um conto e um discurso lido pela própria Agustina”, como recorda o texto de apresentação da mostra.

O Princípio da Incerteza

António Preto salientou que grande parte do trabalho entre o realizador e a escritora passava por encomendas de Oliveira a Bessa-Luís: “O Manoel de Oliveira foi provocando a Agustina Bessa-Luís no sentido de fazer encomendas, no sentido de lhe pedir para escrever sobre vários assuntos, com base numa ideia qualquer, e a Agustina foi respondendo através do que escreveu, tendo como contra-resposta os filmes”.

“À exceção do primeiro dos filmes são textos/romances que resultam dessas encomendas e que, no fundo, foram sendo desenvolvidos com altos e baixos, com momentos de maior cumplicidade e momentos de maior desentendimento”, lembrou o diretor da Casa do Cinema, mencionando o caso de “O Convento” (1995), que é “alegadamente” adaptado de um romance de Agustina, mas, devido a pressões de tempo para financiamento do filme, Oliveira terminou o guião ao mesmo tempo que Bessa-Luís completou o romance.

A “reconciliação, por assim dizer”, faz-se um ano depois, com “Party”, em que os diálogos escritos pela autora são “transpostos integralmente” para o ecrã.

António Preto realçou ainda o filme “O Princípio da Incerteza” (2002), por ter sido protagonizado pelos netos de ambos os autores – Leonor Baldaque, no caso de Agustina, e Ricardo Trepa, no caso de Oliveira.

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