E esses cartazes são de imagens de Abril, imagens históricas da queda da ditadura. “Tivemos uma sorte incrível", disse à Lusa a presidente da associação cultural 2314, Helena Araújo: "O [fotógrafo] Alfredo Cunha deu-nos algumas das fotografias mais icónicas dele, e resolvemos fazer quatro cartazes com imagens diferentes […] Vamos ter em Berlim inteira fotografias do 25 de Abril”.

O festival, que começou em 2018, dedica esta sexta edição ao cinquentenário da Revolução dos Cravos, tendo como objetivo chegar a mais público.

Numa cidade com mais de dois mil eventos por noite, os Dias do Cinema Português acabam por ter imensa concorrência, prosseguiu a responsável da Associação 2314, que organiza o certame. Por isso, "temos de oferecer algo especial, para que as pessoas queiram vir ao nosso festival de cinema e não a outra coisa qualquer”.

No total vão ser exibidos 23 filmes em dez sessões, a maioria documentários. “Por serem as comemorações do 25 de Abril, [a programação] tem um peso maior de documentários, porque não há muita ficção feita sobre o tema. Têm de ser filmes relativamente recentes, e por isso não fomos buscar clássicos”, revelou Helena Araújo.

Os filmes selecionados "falam de como era a vida durante a ditadura, mostram a alegria da revolução, e as mudanças que espoletou, a vários níveis", descreveu. "Um deles é sobre a descolonização, com um documentário tocante sobre o que as pessoas sonharam para Moçambique, e os sonhos que ficaram pelo caminho. Outro é sobre as mudanças de costumes em Portugal, devido ao contacto com os voluntários que vieram de vários países para colaborar na construção do novo Portugal”.

Haverá também uma sessão de homenagem ao cinquentenário da independência da Guiné-Bissau, em 27 de novembro, com a exibição de "Fogo no lodo" (2023), de Catarina Laranjeiro e Daniel Barroca, documentário que resgata a memória de Unal, "aldeia de produtores de arroz cujos habitantes desempenharam um papel crucial na luta de libertação contra o colonialismo português".

Os Dias do Cinema Português em Berlim arrancam em 1 de novembro com o filme “Peregrinação” (2017), de João Botelho, e encerram no dia 29 com "Nação Valente" (2022), de Carlos Conceição.

O filme de abertura “não tem diretamente a ver com o 25 de Abril", disse Helena Araújo, "mas mostra como começou um ciclo de 500 anos que terminou com o 25 de Abril e a descolonização”. Um ciclo que o filme premiado de Carlos Conceição, a exibir no encerramento, culmina, com a sua reflexão sobre o colonialismo, a guerra e as suas consequências.

Ao todo serão exibidos 23 filmes, entre curtas e longas-metragens, com predominância de produção recente, dos últimos anos, mas que também recupera produções mais antigas, nomeadamente filmes-chave de animação de Abi Feijó, como "The Outlaws" (1993) e "A Noite Saiu À Rua" (1987).

"O que podem as palavras" (2022), de Luísa Marinho e Luísa Sequeira, "Tão pequeninas, tinham o ar de serem já crescidas" (2024), de Tânia Dinis, "Menina" (2016) de Simão Cayatte, "Les mains invisibles" (2022), de Hugo dos Santos, "Antes de amanhã" (2007), de Gonçalo Galvão Teles, e os filmes de animação "Nayola" (2022) e "Fragmentos" (2016), de José Miguel Ribeiro, estão entre as propostas.

"Clandestina" (2023), de Maria Mire, "O casaco rosa" (2022), de Mónica Santos, "Nevoeiro" (2018), de Daniel Veloso, "Cracked" (2020), de Ana Rodrigues, António Lucas, João Monteiro e Rita Branco, "Prazer, camaradas" (2019), de José Filipe Costa, "25 de Abril, uma aventura para a Democracia" (1999), de Edgar Pêra, "À mesa da unidade popular" (2024), de Isabel Noronha e Camilo de Sousa, e "O cravo da liberdade" (1996), de Andreia Marques, fazem igualmente parte do programa.

Nos últimos cinco dias do festival, a programação inclui ainda "Alcindo" (2021), de Miguel Dores, "Mistida" (2022), de Falcão Nhaga, e "Lugar em nenhuma parte" (2016), de Bárbara de Oliveira e João Rodrigues.

Helena Araújo disse à Lusa ter havido sempre atenção "ao que poderia interessar ao público berlinense e não apenas àquilo" que os organizadores pudessem "achar interessante". "O critério foi: se um berlinense numa noite de novembro sai à rua e vai ver um filme, tem de voltar para casa contente e com a sensação de que valeu a pena”, sublinhou a presidente da Associação 2314.

Além das sessões de cinema, será também servido vinho do Porto para promover as conversas depois dos filmes.

“Em anos anteriores as pessoas chegaram a estar às 11h da noite a conversar sobre o filme, mesmo depois de o cinema fechar. Dá-me muita satisfação ver o interesse e a alegria das pessoas”, concluiu Helena Araújo.

O festival realiza-se, mais uma vez, no cinema Moviemento, dos dias 1 a 29 de novembro, em Berlim.