Apesar de "Cinzento e Negro" ter partido à frente na corrida com 14 nomeações, acabou por ser "Cartas da Guerra" o grande vencedor da noite, ao converter as suas 11 nomeações em sete troféus, designadamente os de Melhor Filme, Realizador (para Ivo M. Ferreira), Argumento Adaptado, Fotografia, Som, Direção Artística, Guarda-Roupa e Maquilhagem e Cabelos. O filme, que já tinha sido o candidato português ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, foi criado a partir da correspondência do escritor António Lobo Antunes durante a guerra colonial.

“Cartas da Guerra” deixa um retrato sobre "a maior tragédia portuguesa do século XX", como o realizador disse à Lusa, quando a longa-metragem teve estreia em sala, em setembro do ano passado.

Ao receber o Prémio de Melhor Filme, o produtor Luís Urbano, de O Som e a Fúria, dedicou-o ao Instituto do Cinema e do Audiovisual, "apesar de não gostar muito da direção que está lá", por considerar que é um instrumento "essencial para fomentar esta atividade", para prosseguir "uma política pública, que tem de existir" e "que tem de apoiar a diversidade no cinema", com base em "concursos públicos" e "júris independentes, nomeados pelo próprio instituto do cinema".

Pouco antes, o realizador Luís Filipe Rocha, distinguido com o prémio Sophia de Melhor Argumento Original, por "Cinzento e Negro", criticara os sistemas de júri para a atribuição de financiamentos ao cinema português, e apelara a uma reforma total dos mecanismos de apoio do ICA.

Sem esquecer a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na plateia, o realizador de "Cinzento e negro" desejou "um futuro melhor e mais solidário para o cinema português".

Na quinta edição dos prémios Sophia, "Cinzento e Negro", o filme com mais nomeações, 14 ao todo, arrecadou três troféus: o de Melhor Ator para Miguel Borges, o de Melhor Argumento Original para o também realizador Luis Filipe Rocha e o de Melhor Banda Sonora Original para Mário Laginha.

Ainda no campo dos intérpretes, Ana Padrão ganhou o galardão de Melhor Atriz por "Jogo de Damas", de Parícia Sequeira, Manuela Maria o de Melhor Atriz Secundária e Adriano Carvalho o de Melhor Ator Secundário, ambos por "A Mãe é que Sabe".

O prémio de Melhor Banda Sonora Original foi para Mário Laginha, pela composição para “Cinzento e Negro”.

O prémio de Melhor Curta-Metragem de Ficção para para Simão Cayatte, por “Menina”, e “Balada de um Batráquio”, de Leonor Teles, que abriu a lista de galardões com o Urso de Ouro de Berlim, em 2016, recebeu o Sophia de Melhor Documentário em Curta-Metragem.

A memória da Guerra Colonial passa igualmente por “Estilhaços”, de José Miguel Ribeiro, que hoje juntou o Prémio de Melhor Curta-Metragem de Animação, ao seu rol de distinções.

"Mudar de Vida", de Nuno Guerreiro e Pedro Fidalgo, sobre o músico José Mário Branco, recebeu o prémio de Melhor Documentário em Longa-metragem.

Estreado no festival IndieLisboa, em 2014, "Mudar de Vida" chegou às salas de cinema em maio do ano passado. Ficou em cartaz mais de dois meses e acabou por se situar entre os dez filmes portugueses mais vistos em sala, em 2016.

A obra resulta de 12 anos de trabalho e não teve outros apoios financeiros se não os angariados junto de particulares: "Mais de 200", sobretudo através de 'crowdfunding', porque, "quando todas as políticas falham", viramo-nos para as pessoas, disse esta noite o realizador Nuno Guerreiro.

Ruy de Carvalho foi homenageado com o Prémio Mérito e Excelência, assinalando os seus 90 anos de vida e 75 anos de carreira.

Os prémios Sophia Carreira, destinados à atriz Adelaide João e ao diretor de fotografia Elso Roque, serão entregues pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, num almoço a realizar no palácio da Cidadela, em Cascais, na próxima segunda-feira.

Os prémios foram entregues no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, numa cerimónia que teve início na noite de quarta-feira.

Lista completa de vencedores:

Melhor Filme: “Cartas da Guerra”

Melhor Realizador: Ivo M. Ferreira – “Cartas da Guerra”

Melhor Ator Principal: Miguel Borges – “Cinzento e Negro”

Melhor Atriz Principal: Ana Padrão – “Jogo de Damas”

Melhor Ator Secundário: Adriano Carvalho – “A Mãe é que Sabe”

Melhor Atriz Secundária: Manuela Maria – “A Mãe é que Sabe”

Melhor Documentário em Longa-Metragem: “Mudar de Vida, José Mário Branco, vida e obra” de Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo

Melhor Banda Sonora Original: Mário Laginha - “Cinzento e Negro”

Melhor Canção Original: “Refrigerantes e Canções de Amor”, letra Sérgio Godinho e música Filipe Raposo – “Refrigerantes e Canções de Amor”

Melhor Fotografia: João Ribeiro – “Cartas da Guerra”

Melhor Argumento Original: Luís Filipe Rocha – “Cinzento e Negro”

Melhor Argumento Adaptado: Ivo M. Ferreira e Edgar Medina – “Cartas da Guerra”

Melhor Direção Artística: Nuno G. Mello – “Cartas da Guerra”

Melhor Som: Ricardo Leal – “Cartas da Guerra”

Melhor Guarda Roupa: Lucha d'Orey – “Cartas da Guerra”

Melhor Maquilhagem e Cabelos: Nuno Esteves “Blue” – “Cartas da Guerra”

Melhor Montagem: Sandro Aguilar – “Cartas da Guerra”

Melhor Documentário em Curta-Metragem: “Balada de um Batráquio”, de Leonor Teles

Melhor Curta-Metragem de Ficção: “Menina”, de Simão Cayatte

Melhor Curta-Metragem de Animação: “Estilhaços”, de José Miguel Ribeiro

Prémio Sophia Estudante: “A Instalação do Medo”, de Ricardo Leite