Eles evitam abordar a sua vida pessoal, mas outras pessoas não conseguem evitar: o cineasta iraniano Asghar Farhadi não poupou elogios durante a conferência de impresa desta quarta-feira no Festival de Cannes ao casal Penélope Cruz e Javier Bardem, que dirige no filme "Todos Lo Saben".

"São uma família harmoniosa, com uma simplicidade com os seus filhos que é única. Representam o símbolo do casal feliz e apaixonado", afirmou o realizador à imprensa, após a exibição na véspera do filme em língua espanhola, rodado em Madrid, que foi bem recebido pela crítica.

"Eles têm uma separação muito clara entre a vida real e o trabalho", completou.

Cruz e Bardem protagonizam o filme que foi a sessão de abertura do Festival de Cannes. A longa-metragem dirigida por Farhadi sobre os segredos e divergências de uma família conta ainda com o argentino Ricardo Darín e os espanhóis Barbara Lennie e Miguel Herrán, conhecido pela série "A Casa de Papel".

Este é o nono filme em que Cruz e Bardem, já premiados em Cannes e nos Óscares, representam juntos. O casal, que tem dois filhos e mora na região de Madrid, explica que o trabalho não entra em casa.

"Quando o dia acaba, não falamos de trabalho. Quando era mais jovem, era diferente. Dizia-me que tinha que me torturar, permanecer na personagem durante meses, mas percebi que não é uma boa estratégia", disse Cruz.

Após o recente "Loving Pablo", o casal foi questionado se pensa em voltar a rodar um filme em conjunto em breve.

"Não prevemos fazer todos os anos", respondeu a atriz, de 44 anos.

Perante a pergunta inevitável nesta edição do festival, que adotou a bandeira feminista após o terramoto provocado pelo escândalo do produtor Harvey Weinstein, Penélope Cruz revelou que recebeu o mesmo salário que Bardem neste filme onde interpreta uma mãe cuja filha desaparece no fim de um casamento.

Farhadi conseguiu a proeza de rodar um filme num idioma que aprendeu em dois anos, retratando sem clichés a cultura espanhola.

"Ele é como uma esponja. Absorveu tudo sobre como se vive na Espanha", afirmou a atriz sobre o seu realizador.

A crítica elogiou de uma forma geral o filme, mais uma trama intimista de Farhadi ("Uma Separação", "O Passado", "O Vendedor") e aplaudiu em especial o trabalho dos atores.

Até uma das críticas menos entusiasmadas, a da revista Variety, apontou que apesar de ser o filme "mais fraco" do realizador, ainda era melhor do que a grande maioria dos dramas comerciais produzidos na Espanha, França e Estados Unidos".

O filme, que está na mostra competitiva pela Palma de Ouro, foi vendido à distribuidora Focus Features, que será responsável pela exibição nos Estados Unidos, pouco tempo após a sessão de gala.

A estratégia é tentar encaixar a longa-metragem no período dos grandes prémios da indústria americana, no último trimestre do ano.