Numa altura em que aumentam as tensões na Irlanda do Norte, Kenneth Branagh apresentou o seu filme "Belfast", uma carta de amor à sua cidade natal que emocionou os espectadores do Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF).

Inspirada na sua história pessoal, a comédia dramática a preto e branco, que estreia a 12 de novembro nos EUA e 25 de novembro em Portugal, narra a eclosão da violência na província britânica no final dos anos 1960 pelos olhos de Buddy, um rapaz de nove anos.

Foi nessa idade que Branagh e a sua família partiram para a Inglaterra para escapar do "The Troubles" - como foi chamado o conflito da Irlanda do Norte.

"Uma história como esta tenta mostrar que mesmo no meio do caos e violência, esta cidade tem qualidades incríveis", disse o ator e realizador à agência France-Presse na passadeira vermelha em Toronto.

Kenneth Branagh na rodagem de "Belfast"

A Irlanda do Norte foi abalada nos últimos meses por uma violência sem precedentes em vários anos, após o Brexit minar uma paz delicada.

Os atos de violência ressuscitaram o fantasma do conflito na Irlanda do Norte e as suas 3.500 mortes, que durante três décadas sangrentas opôs republicanos, principalmente católicos a favor da reunificação com a Irlanda, e unionistas protestantes, fervorosos defensores da ligação ao Reino Unido.

Desde a primeira cena, o espectador é imerso na violência da época: no verão de 1969, protestantes agrediram famílias católicas para forçá-las a deixar as ruas onde os dois grupos conviviam. As tropas britânicas são mobilizadas e o pai de Buddy enfrenta a difícil decisão de emigrar com a sua família.

Mas em "Belfast", a violência é percebida parcialmente pelo olhar do menino (Jude Hill), que não compreende a total gravidade da situação. O filme também ameniza a tensão com o uso do humor.

A longa-metragem, que foi aclamada pelo público de Toronto e vista por críticos como um bom candidato aos Óscares no ano que vem, também se destaca pelo seu elenco de estrelas: Jamie Dornan, Judi Dench, Caitriona Balfe e Ciaran Hinds.

Branagh, com uma carreira eclética que abrange desde as adaptações de Shakespeare ao filme de super-heróis "Thor", diz que "Belfast" levou décadas para amadurecer. Com a pandemia, e o primeiro confinamento na Inglaterra, teve a oportunidade de escrevê-lo.

Devido à crise sanitária, esta edição do TIFF, um dos maiores eventos cinematográficos da América do Norte, contou com a presença de estrelas de Hollywood pela primeira vez em dois anos.