O papel da enfermeira Amy Loughren, que apanhou o "serial killer" Charles Cullen em 2003, foi um sonho para a atriz Jessica Chastain, que se sentiu assombrada pela responsabilidade no seu novo filme, “O Enfermeiro da Noite”.
“É muito intimidante interpretar alguém numa cena da sua vida enquanto essa pessoa observa”, disse Jessica Chastain numa sessão exclusiva da Critics Choice Association a que a Lusa teve acesso.
“Quando interpreto gosto de desaparecer dentro do papel e acreditar que é real”, disse Chastain, que descreveu este papel como “um sonho”. Mas a verdadeira Amy Loughren estava presente nas filmagens e a atriz disse que muitas vezes se sentia uma fraude. “Senti muita responsabilidade, queria que ela gostasse do que eu estava a fazer”, afirmou a vencedora do Óscar de Melhor Atriz em 2022.
“O Enfermeiro da Noite”, que chega hoje a salas de cinema de alguns países e estará na Netflix a 26 de outubro, conta a história verdadeira de como a enfermeira Amy Loughren descobriu que o seu colega e amigo Charlie era um assassino em série com pelo menos 400 vítimas ao longo de 15 anos.
Ambos trabalham no turno da noite do Somerset Medical Center em Somerville, Nova Jersey. A identidade de Loughren, que conseguiu a confissão do assassino conhecido como “Anjo da Morte” em 2003, só foi revelada dez anos mais tarde no livro “The Good Nurse”, de Charles Graeber.
É no livro que se baseia o argumento desta produção Netflix, adaptado por Krysty Wilson-Cairns. A realização ficou a cargo do cineasta dinamarquês Tobias Lindholm.
“Quando li uma versão inicial do argumento, há sete anos, vi a possibilidade de fazer uma história baseada em factos verídicos sobre uma heroína, em vez de ficarmos obcecados com a escuridão”, disse Lindholm no mesmo evento.
Amy, disse, era “uma mãe solteira a criar duas filhas sem receber a ajuda de que precisava e que ainda assim foi capaz de enfrentar todo um sistema e o assassino em série mais prolífico da história americana”. A enfermeira “conseguiu lembrá-lo da sua humanidade e convencê-lo a confessar”, continuou o realizador. “Era uma história que tinha de ser contada”.
Em preparação para o filme, Jessica Chastain e o ator Eddie Redmayne – que interpreta o assassino Charles Cullen – frequentaram uma escola de enfermagem.
“Foi muito rigoroso e intenso”, descreveu a atriz. “Passámos muito tempo com os sacos de solução salina, intravenosos, a aprender como tirar as luvas corretamente”, indicou.
Os atores tiveram o apoio de um enfermeiro, Joe, que os ensinou a fazer compressões de forma correta. “Muitas vezes vemos fazer com os cotovelos dobrados e não é suposto ser assim”, disse a atriz. “O Joe ensinou-nos o ritmo das compressões, que é o mesmo de ‘Ah, ha, ha, ha stayin’ alive, stayin’ alive”, continuou, cantarolando a canção “Stayin’ Alive” dos Bee Gees.
O realismo foi um aspeto importante, pelo que o pessoal médico que executa tarefas em pano de fundo era mesmo composto por médicos e enfermeiros reais.
“Filmámos no final da pandemia e sentimos uma tremenda responsabilidade em relação à comunidade médica, para retratarmos o seu trabalho corretamente, depois de terem passado por algo tão difícil”, explicou Tobias Lindholm.
Para Eddie Redmayne, que se transfigura na pele de um assassino em série que era também um enfermeiro caridoso e competente, o trabalho de preparação incluiu o estudo da fisicalidade do verdadeiro Charles Cullen.
“Tive um excelente professor de dialeto e assisti a todos os vídeos que consegui encontrar para perceber a sua fisicalidade”, referiu o ator. Redmayne também conversou a fundo com Amy, para perceber a dimensão da sua amizade com o ‘serial killer’, que era muito profunda segundo a própria descreveu.
“Acredito que o Charlie era duas pessoas diferentes. A pessoa que eu conhecia não era o assassino”, disse a enfermeira. “A pessoa que eu conhecia, quer fosse uma farsa ou não, era alguém tão amável, gentil, brilhante, um bom amigo, muito leal”, continuou.
“Quando se trabalha com outros em situações de vida e morte, ganhamos uma ligação como soldados. Ele era um excelente companheiro de equipa. Esse não era o assassino”, notou.
Loughren sentiu-se culpada durante muito tempo por não ter percebido antes o que Cullen estava a fazer, e contou o momento em que se fez luz na sua cabeça.
“Quando percebi que ele estava a assassinar pessoas, tive um pesadelo aterrorizador”, recordou. “No pesadelo ele estava sentado numa cadeira na minha casa e disse ‘Já tratei das meninas e agora é a tua vez’”.
Aterrorizada, pegou nas filhas e levou-as consigo para a cama. “Elas nunca mais dormiram sozinhas durante esse tempo até ele estar atrás das grades”.
Comentários