“Esta é uma forma de arte que tem sido mantida comercial e industrialmente na mesa das crianças por demasiado tempo”, disse Guillermo Del Toro nos bastidores dos Óscares, após vencer a estatueta. “É na verdade uma forma de arte madura, expressiva, bonita e complexa”, afirmou o realizador, que estava extático com a vitória.

Usando a técnica ‘stop motion’ e não ‘live action’, o filme da Netflix afirmou-se com uma história que diverge do conto infantil escrito por Carlo Collodi e das várias adaptações que se seguiram.

Del Toro disse, na sala de entrevistas, que o Óscar é um triunfo desta técnica, que considerou ser “uma das formas mais democráticas de animação”.

“Era muito importante para mim ter a oportunidade de dizer que a realização, escrita, direção de arte e design de produção, tudo o que fazemos na animação é análogo, tão ou mais complexo que ‘live action’”, referiu o cineasta.

Del Toro, que fez várias piadas e deu algumas respostas em espanhol na sala de entrevistas, também disse ser importante que a animação tenha sido feita por pessoas “a quem foi prometido serem tratadas como artistas e não como técnicos”.

Sobre o impacto da história em si, o cineasta mexicano disse que o filme tem vários aspetos reversos e significativos. “Um dos mais importantes é que não é uma criança a aprender a ser um menino de verdade, mas um pai a aprender um pai de verdade”, disse. “É uma lição urgente no mundo”.

O realizador acrescentou que o filme também mostra uma urgência de desobedecer. “Estamos a dizer que a desobediência não é apenas necessária, é uma virtude urgente no mundo”.

É “um pai imperfeito e um filho imperfeito”, descreveu, que representam a forma como podemos amar-nos uns aos outros com “os nossos falhanços, defeitos e a nossa humanidade”.

Mark Gustafson, co-realizador da longa-metragem, acrescentou que este “é um filme sobre tristeza e também sobre esperança”.

Del Toro abordou ainda a relevância da sua vitória como cineasta mexicano e o que isso significa em termos de diversidade.

“A arena onde a América Latina pode competir com todo o mundo é na criatividade”, afirmou, considerando quando se faz algo enquanto parte de uma minoria carrega-se uma legião de gente que vem atrás.

Del Toro referiu que, quando começou a sua arte, as coisas eram muito diferentes e havia “racismo e um teto de vidro”. As coisas “estão melhor” mas o cineasta considerou que as coisas não mudam nem terminam com uma geração.

Na outra categoria de animação, Melhor Curta-Metragem, o Óscar foi para ”The Boy, the Mole, the Fox and the Horse", que teve J.J. Abrams como um dos produtores e a Apple TV+ a distribuir, batendo o filme português de João Gonzalez e Bruno Caetano, “Ice Merchants”.

A 95.ª cerimónia dos prémios da Academia decorreu no Dolby Theatre, em Los Angeles.