Liv Ullman vai desaparecer numa versão restaurada com recurso à Inteligência Artificial de "Persona" ("A Máscara" em Portugal), de Ingmar Bergman, que será exibida no Festival de Cinema de Gotemburgo.

O festival sueco descreve o projeto como "uma experiência cinematográfica" e "provocadora" que tem como objetivo provocar o debate sobre o uso da tecnologia, mas a iniciativa está gerar polémica e reações de repúdio nas redes sociais.

Nesta nova versão gerada por I.A. que recebeu o título de "Another Persona" ("Outra Máscara", em tradução direta segundo o título português), o rosto da lenda do cinema que dava vida à personagem Elisabet Vogler será substituído pelo de Alma Pöysti, a atriz finlandesa protagonista do mais recente e premiado filme de Aki Kaurismäki, "Fallen Leaves" (chega ao cinemas nacionais a 30 de novembro).

A versão será exibida ao público apenas uma vez e exclusivamente na edição de 2024 do festival, com a presença das próprias Liv Ullmann e Alma Pöysti, seguindo-se um debate sobre a representação e a tecnologia.

A parceria junta o festival com a SF Studios, que produziu a maioria dos filmes de Ingmar Bergman, o Gothenburg Film Studios e a própria fundação com o nome do lendário cineasta.

"O debate sobre representar, máscaras e autenticidade que fez de 'Persona' um clássico foi reativada com urgência pelos avanços tecnológicos. Não menos importante, a greve em Hollywood [dos argumentistas e atores] gerou um debate importante sobre as possibilidades de produção e as ameaças ao mercado de trabalho em relação à I.A.”, destacou o comunicado que cita Jonas Holmberg, o diretor artístico que está de saída do festival.

“Queremos acrescentar uma dimensão artística e existencial à discussão, e queremos fazê-lo envolvendo-nos no incomparável filme de Ingmar Bergman. 'Another Persona' será uma experiência cinematográfica única, provocadora e bastante perturbadora", acrescentou.

A apoiar institucionalmente o projeto surge Jan Holmberg, presidente executivo da Fundação Ingmar Bergman.

“Como administradores do legado de Bergman, nós na Fundação Ingmar Bergman e do SF Studios pensamos que 'Another Persona' é um projeto brilhante. 'Cada tom de voz uma mentira. Cada gesto falso', é dito no filme de Bergman de 1966. Isto torna-se uma mais verdadeiro agora! Numa altura em que nos transferimos a nós mesmos para as máquinas e, ao mesmo tempo, procuramos o nosso eu autêntico", defende.