
“Coleção de Colecionadores” e “Coleção de Amantes” são os dois espetáculos que estarão em cena entre os dias 2 e 12 de novembro, e a partir de 15 de novembro, respetivamente.
O nome grande do projeto, que engloba estes dois espetáculos, é “coleção de pessoas”, porque Raquel André está "sempre a colecionar pessoas, sob perspetivas diferentes”, contou à agência Lusa.
A “Coleção de Amantes” é sobre a intimidade e sobre o efémero, sobre como se guarda um momento com alguém, a “Coleção de Colecionadores” é sobre a memória dos objetos, também uma coisa efémera, em que pede às pessoas que lhe contem a história de vida através dos objetos que guardam.
Para a construção do espetáculo “Coleção de Amantes”, Raquel André marca encontros com desconhecidos, vai a casa deles, ficciona momentos que comprovem uma intimidade, e fotografa-os.
Neste momento conta já com cerca de seis mil fotografias com 137 pessoas diferentes, de diferentes idades, em diferentes cidades – entre as quais Lisboa, Rio de janeiro, Manaus, Ponta Delgada ou Paredes de Coura – e cria narrativas a partir desses encontros.
As fotografias retratam momentos encenados a partir das propostas que as pessoas lhe fizeram do que para elas é a intimidade.
“A almoçarmos, a fingir que estamos a dormir, a conversar, a pintar as unhas, a espremer uma borbulha, a maquilhar, a fazer yoga, a olhar pela janela, a ler um livro a meias, a acender uma vela, a conversar com uma luz de frigorífico, são várias imagens de possibilidade de intimidade, porque cada pessoa tem uma relação diferente com essa palavra – intimidade”, contou.
O espetáculo é depois dividido em três momentos: um primeiro em que é apresentada uma estatística ficcionada sobre afetos (como se guarda informação sobre um encontro com outro), um segundo em que a encenadora – e única presença em palco - conta o que aconteceu nos encontros, misturando ficção e realidade e deixando sempre o mistério sobre o que é verdade ou não, e um último momento em que introduz narrativas criadas com diálogos de cinema, usando as imagens de encontros com as pessoas e criando novas narrativas.
Na “Coleção de colecionadores”, a coleção “é uma desculpa para chegar à pessoa”.
Raquel André tenta saber “o que é que uma coleção guarda” e tenta chegar à história da pessoa, através dos objetos que coleciona.
Neste espetáculo - documentado com depoimentos em vídeo, exemplares de peças colecionadas e textos que contam a história das coleções e dos seus donos - “os colecionadores têm nome, lugar, é um catálogo muito mais claro e já não os consigo mostrar todos, porque é um espetáculo que está sempre em atualização, em adição”.
“Quando estreei tinha 12 colecionadores e consegui mostrar todos, agora tenho 30 colecionadores desde Portugal, à Alemanha e Bélgica, mas só vou conseguir mostrar 18. Há uma narrativa, um universo criado para cada um dos colecionadores”, disse.
“A maior potência do meu trabalho é que é um trabalho vivo, é sobre uma realidade, sobre as experiências que tive com as pessoas e, apesar de ser teatral, é vivo no sentido que está sempre a mudar”, considerou a encenadora.
À pergunta “por que coleciona pessoas”, Raquel André tem dificuldade em responder, mas admite que parte do desafio de tentar guardar o momento.
“Para mim o outro, a pessoa, é o auge do efémero. Estamos em constante mutação. Como guardar o minúsculo movimento do outro? Como guardar o espaço entre dois olhares? É precisamente sobre essa impossibilidade. O que fica, afinal? Um espaço efémero, mas muito potente, que chamamos de afeto, amor, experiência, sensibilidade, por isso pessoas”.
Os espetáculos são uma cocriação de Raquel André, António Pedro Lopes e Bernardo de Almeida, com música de Noiserv, e parceria do Festival Temps d’Images.
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