Um filme que estreou no South by Southwest, em Austin no Texas, a obra teve direito a um lançamento da Criterion em 2012. Tiny Furniture possui características notáveis a nível visual (realização e fotografia), uma qualidade acima da média nos desempenhos e uma excelente dose de sarcasmo e autocrítica na narrativa de uma jovem à deriva. Tiny Furniture e Girls partem de experiências pessoais assentes nas relações de Dunham com a família os amigos. Em Girls este conceito está disseminado pelos restantes intervenientes.

Já em 2009 Dunham tinha estado em Austin com Creative Nonfiction, a sua primeira obra filmada quando a cineasta ainda estava na faculdade, na mesma altura editou Delusional Downtown Divas, uma webseries que gerou algum buzz nos nichos mais alternativos. Dunham graduou-se em escrita criativa e vem de uma família de artistas, os pais são importantes artistas visuais (Laurie Simmons e Caroll Dunham), a mãe e a irmã fizeram uma perninha em Tiny Furniture.

Porquê Girls?

O título tem capacidade de síntese e uma grande dose de ironia. As protagonistas têm 24 anos mas não se revêm nem se comportam como adultas. Segundo a autora houve várias hipóteses para o nome da série e todas continham “girls” no título. Duham acabou por seguir a sugestão do seu pai (um fotógrafo de arte) e Judd Apatow, o produtor executivo.

Girls conta a história de quatro amigas que estão num limbo de crescimento, acabadas de graduar da universidade ou prestes a terminar o curso mas com a certeza que nenhuma delas chegou à vida adulta. Nestas jovens de classe média o constante experimentalismo e a pouca autoestima estão a paredes meias entre empregos instáveis e namorados desajustados, e onde o romance parece um mito. Elas não se sentem como adultas comportam-se como adolescentes capitalizando no seu charme de adolescente para conseguir o que querem.

A genialidade da primeira temporada promete estender-se para uma segunda época com Lena Duham a levantar o véu ao afirmar que vão entrar novos personagens e alcançar alguma diversidade étnica, uma das críticas feitas à série.

O toque Apatow

Judd Apatow envolveu-se neste projeto após ter visto Tiny Furniture a admiração por Lena Duham cresceu quando tomou conhecimento que a jovem, para além de ter interpretado e realizado o filme, também escreveu e produziu a sua obra. Apatow já afirmou que Girls é a visão de Dunham mas o produtor está envolvido no processo de edição, na leitura dos argumentos e no casting.

Lena Duham após o seu filme aspirava em ir trabalhar para Los Angeles como argumentista da sitcom A Teoria do Big Bang mas acabou por se reunir com Judd Apatow e a sua amiga Jennifer Konner que apoiaram o seu projeto e incutiram mais comédia na série na apresentação à HBO. O próprio agente de Duham ficou surpreendido pelo facto da sua cliente ir escrever e interpretar um papel em Girls, e a criadora pensou que a HBO ia contratar Kat Dennings para o papel principal de Hanna.

Sexo e a Cidade

Há comparações evidentes entre Girls e Sexo e a Cidade, talvez porque sem a série com Sarah Jessica Parker as personagens de Girls provavelmente não existiriam. Esse foi um dos fatores que fez a HBO encomendar uma série que é única. Girls consegue divertir a rodos e desafia os espectadores a refletir sobre os meandros de uma geração que se arrisca a estar esquecida. Estas personagens ficcionais estão longe de viverem num universo de uma casa de bonecas ao ocuparem um lugar onde surgem questões fundamentais para as jovens do mundo real.

A voz de uma geração

Girls descreve a ansiedade de uma amostra de uma geração que não é impelida por desejos de ter uma casa de sonho, um diamante ou alta-costura, estas personagens são emocionalmente genuínas em histórias honestas numa série com vários sabores. O realismo reflete o pânico de se viver numa era onde a comunicação e as interações sociais estão filtradas por diferentes meios sendo necessário descodificar as verdadeiras intenções deste universo despersonalizado, e são curiosas as introspeções de sequências em torno das redes sociais e o mundo dos sms´s. A série constrói personagens tridimensionais onde a economia e as esperanças no futuro diminuem a olhos vistos para uma geração que está cada vez mais perdida.

A linguagem e a descrição visual da sexualidade é absolutamente explícita mas sempre com uma faceta de embaraço. Os únicos que têm prazer são os espectadores, na fruição das gargalhadas de relações condicionadas por fantasias pornográficas onde o homem é o único que desfruta alguma coisa. Apesar do espírito feminino que predomina na série, as relações sexuais possuem esse subtexto degradante no princípio de satisfazer os parceiros e explorar novas fronteiras. As personagens disfrutam de uma enorme química, o espectador esquece-se facilmente que está a observar uma encenação.

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