Nota: artigo com spoilers de "Long Long Time", o terceiro episódio da série "The Last of Us" (HBO Max)

E ao terceiro episódio, "The Last of Us" faz uma viragem de rumo e de tom que nem os maiores fãs do videojogo que inspira a série da HBO Max antecipariam. Em vez de dar o maior tempo de antena aos protagonistas Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey), a saga pós-apocalítica dedica grande parte dos 75 minutos de "Long Long Time" a duas novas personagens: Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett), figuras que eram meras notas de rodapé da versão original desta aventura.

Se essa mudança de foco já seria, por si só, uma diferença notória, a crónica de um relacionamento gay que atravessa décadas torna o gesto ainda mais singular. Que o digam os muitos aplausos (tanto da crítica como do público) em várias avenidas da internet desde domingo passado, data da estreia deste capítulo - em Portugal, "Long Long Time" pode ser visto na HBO Max a partir desta segunda-feira.

Nick Offerman, habitualmente associado a papéis cómicos (graças a séries como "Parks and Recreation" ou "Fargo"), encarna um dos elementos do casal que vem reforçar a componente dramática de uma série que também passa pela ação, ficção científica, terror ou suspense. "Há um par de cenas à James Ivory", brinca o ator de 52 anos durante uma mesa-redonda virtual na qual o SAPO Mag participou.

The Last of Us

"Emocionei-me, mas não gosto de me ver. Não sou capaz de me ver objetivamente e de me deixar levar pelos meus belos penteados como um espectador comum. Vejo cada detalhe de forma muito técnica. Mas emocionei-me muito com a história e com a forma como a abordámos. Acho que não estive muito mal", confessa a propósito da sua experiência na pele de Bill, homem que vive em isolamento durante anos até abrir a porta (e aos poucos, o coração) a um forasteiro.

Amor e carpintaria

"Parte do que tornou esta uma experiência tão especial foi o guião do Craig [Mazin, cocriador e argumentista da série]. Fiquei muito contente por ele me ter escolhido para encarnar este homem que fez um ótimo trabalho a tomar conta dele, da sua mãe, da sua casa. A ser autossuficiente e a proteger-se. Num tempo como o nosso, de consumismo e materialismo, em que podemos viver como bebés gordos e ter vidas inteiras servidas ao carregarmos numa tecla do telemóvel, foi ótimo rebelar-me contra isso, estar na terra e fazer coisas com as minhas próprias mãos. As técnicas de sobrevivência dele garantiram-lhe o maior amor no universo da série. Acredito que é o romance mais bonito que vamos ver", acrescenta.

"Venho de uma família muito prática e muito autossuficiente, por isso gosto de saber muitas das coisas que o Bill sabe para ser capaz de me ajudar e aos meus em qualquer circunstância", assinala o norte-americano que, além de um percurso como ator, comediante, argumentista e produtor, também é carpinteiro profissional. "Aprende a usar ferramentas e vais ser beijado", garante com a atitude espirituosa que marcou a conversa.

Nick Offerman

Além do lado tecnicamente desenvolto da sua personagem, Offerman diz apreciar um dos grandes apelos da série: o de que "devemos estar mais atentos à Mãe Natureza enquanto civilização e tentar viver de acordo com ela". Mas louva que esse caminho não tenha de ser feito de forma sisuda, recordando uma sequência que lhe deu especial gozo fazer, "à noite, com chuva e pirotecnia". É um dos momentos em que a história de Bill e Frank foge ao drama de câmara, com um disparo de adrenalina mais sintonizado com os capítulos anteriores da série. "É perigoso, frio, estamos a tentar manter-nos quentes enquanto disparamos uma arma e andamos de um lado para o outro... Mas também é incrível. Sobretudo para alguém como eu, que quando era miúdo fingia ser o Robin dos Bosques, um mosqueteiro ou um cowboy como o Billy Jack", recorda.

Mas apesar de já amplamente aplaudido, supõe-se que o protagonismo de Bill na série seja limitado, tendo em conta o final trágico deste terceiro episódio. Ou será que não? Offerman responde-nos, mais uma vez com ironia: "Com todo o respeito, acho que está a revelar alguma falta de imaginação ao assumir que não podemos ter um spin-off com cinco temporadas. Há muitos períodos temporais por explorar". A julgar pela devoção que "Long Long Time" gerou tão rapidamente, talvez a ideia até fosse abraçada por muitos espectadores...

TEASER DO TERCEIRO EPISÓDIO DE "THE LAST OF US":