"É 'Hora de Aventuras' sem ser a mesma versão de 'Hora de Aventuras'", descreve Adam Muto ao apresentar o especial de quatro episódios da série de animação de culto que tem conquistado fãs de todas as idades desde 2010.
"É importante não nos limitarmos apenas a uma perspetiva", defende o produtor executivo da expansão cujo quarto capítulo se estreou este sábado no Cartoon Network e repete este domingo, 5 de dezembro, às 18h25. O norte-americano, que também foi showrunner, argumentista, artista, diretor criativo e produtor executivo de "Hora de Aventuras", volta a esse universo "com episódios que não se enquadram na série, são uma ramificação". Mas esse pode ser um passo arriscado quando "as pessoas têm ideias muito diferentes do que é suposto ser um episódio de 'Hora de Aventuras', qual é o tom". E qual é? "Acho que isso é maleável", diz ao SAPO Mag numa entrevista virtual.
"Cidade dos Feiticeiros", o último episódio do especial desenvolvido pelo Cartoon Network ao lado da plataforma de streaming HBO Max, é certamente maleável, ao centrar-se numa personagem secundária até aqui muitas vezes vista como vilão, o mestre do oculto Peppermint Butler. "Hora de Aventuras: Terras Distantes" dá-lhe a oportunidade de um recomeço desde a infância, enquanto pequeno Pep. Mas ao voltar ao papel de estudante numa escola de magia, o protagonista acaba por ser confrontado com o passado: será esta uma pessoa diferente ou estará destinado a repetir o percurso de uma figura sombria?
A nova aventura de Peppermint Butler não é, no entanto, a última vez que voltaremos ao universo de "Hora de Aventuras", depois de dez temporadas da saga que se fez notar pela mistura irreverente e às vezes desconcertante de fantasia, ficção científica e humor negro. Já está garantida uma série de dez episódios que vai acompanhar Fionna e Cake, embora em versões no sexo masculino e feminino, respetivamente - versões "maleáveis", lá está. Adam Muto será igualmente produtor executivo dessa aposta, ainda sem data de estreia agendada, e também falou dela ao SAPO Mag:
SAPO Mag - O que motivou a escolha de Peppermint Butler/Pep para protagonizar um dos episódios de "Hora de Aventuras: Especial Terras Distantes"?
Adam Muto - Quando fizemos este especial, preparámos uma lista com todas as personagens que poderiam ser revisitadas. Era uma lista muito longa, mas também queríamos ter uma perspetiva diferente. Também tentámos chegar a um público mais novo, por isso optámos por um protagonista mais jovem que teria um ponto de vista muito diferente. E procurámos centrar-nos numa personagem que não fosse muito obscura em termos de reconhecimento do público.
SAPO Mag - Houve logo a intenção de tornar Peppermint Butler mais heróico face ao que conhecíamos dele?
Acho que foi interessante não o abordar necessariamente enquanto herói. Ele tem alguns momentos heróicos, mas também se move por interesses pessoais e tem um lado negro. Talvez se torne exatamente na personagem que era antes, mas também pode transformar-se numa pessoa diferente. Achei isso interessante, ele pode tornar-se um feiticeiro sombrio, viver perfeitamente feliz com isso e ter tudo o que quer. Para outras personagens, isso seria a antítese da forma como vivem as suas vidas. O Peppermint Butler é um bocado mais ambíguo do que isso, foi interessante equacionar para onde poderia ir. Talvez ele acabe por ir parar ao mesmo sítio, mas a fazer todo o tipo de coisas horríveis de uma forma diferente. (risos)
Cadebra é uma das novas personagens de "Cidade dos Feiticeiros" e um destaque evidente. Iremos voltar a vê-la?
É sempre uma possibilidade, mas não pensámos neste especial como piloto para outras séries. Nem sabíamos bem qual era o público da HBO Max. Em parte, foi uma experiência. Achamos que possa funcionar e que tem potencial para mais, mas não partimos com essa perspetiva. Queríamos que fizesse sentido isoladamente e se as pessoas acharem que querem ver mais, melhor. Mas gostei muito da Cadebra, foi uma personagem que se destacou de forma inesperada. Tentámos encontrar um tipo de personagem que ainda não tivéssemos tido na série, alguém que é excluído mas que está confortável nesse papel. Noutra história, ela seria a "escolhida", mas aqui está mais interessada em ter o seu percurso e seguir as suas paixões em vez de ficar sujeita às expectativas dos outros. Na próxima série, haverá menos oportunidades de ver personagens que já apareceram. Não podemos garantir que alguém vá regressar, mas gostamos de deixar a porta aberta.
Como olha para o conjunto dos quatro episódios especiais?
Durante a pandemia, pensámos que não íamos conseguir terminar. Pensei 'Como é que conseguimos continuar a fazer isto?'. (risos) Mas estou orgulhoso do produto final e do que conseguimos atingir durante um período muito tumultuoso não só no mundo mas também no Cartoon Network. A identidade do canal mudou muito desde que iniciámos o projeto até à altura em que o estreámos. Sinto que só a oportunidade de o termos desenvolvido já foi muito boa, além da possibilidade de trabalharmos com estes artistas. E penso que conseguimos chegar ao público que queríamos sem comprometer a herança da série principal. Quando regressas muitas vezes, as pessoas podem perguntar 'Porque é que fizeste isso? Devias ter deixado as coisas como estavam'. Fico feliz por terem sentido que era um motivo válido para voltar.
Como foi a seleção das personagens a revisitar?
Tivemos preocupações diferentes. Um dos pedidos do Cartoon Network foi que fosse mais virado para um público mais novo. E foi por isso que começámos com o BMO, porque tem uma perspetiva mais jovem e é menos complexo, de certa forma. Quer dizer, a sua vida é muito complexa, mas a forma como ele se comporta é muito infantil, por vezes. Além disso, é muito popular. Tentámos pensar nos elementos da série de que as pessoas gostam e que quisessem voltar a ver e que até seria estranho não recuperar. Podíamos ter feito muita coisa, tínhamos muitas opções, mas estas acabaram por se destacar. (...) As pessoas aproximam-se de personagens que tanto podem ter aparecido num como em dez episódios. Qualquer um pode ser a melhor personagem para elas. O streaming permite que as coisas possam tornar-se mais obscuras, para o melhor e para o pior. Podemos fazer uma série do Disney+ centrada numa personagem secundária e, se for bem feita, as pessoas aderem e não temos de nos preocupar com o facto de não ser das personagens mais populares. Se pensarmos numa história interessante para qualquer personagem, podemos avançar.
Há pelo menos mais uma expansão garantida de "Hora de Aventuras", a série de Fionna e Cake. O que pode avançar dela?
Não posso avançar muito. A premissa já é conhecida, mas quisemos garantir que partisse de algo que já construímos em vez de tentar um recomeço com uma versão diferente das personagens. É sobre a Fionna e o Cake e a forma como se integram neste universo. Estou feliz com o ângulo que encontrámos para eles, foi sempre um desafio fazer episódios como eles porque em termos de design não estão muito longe do Finn e do Jake. Tivemos de pensar em como torná-los específicos e não derivativos. Por isso, esta série é uma tentativa de os individualizar e de lhes dar personalidades distintas que nasceram da série principal. E como são dez episódios, permite-nos contar uma história de grande fôlego com eles, o que não conseguimos fazer antes.
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