No mesmo dia que a DC estreou "Doom Patrol", baseada na saga de Grant Morrison, a Netflix estreou também "The Umbrella Academy", de Gabriel Bá e Gerard Way (vocalista da banda My Chemical Romance).  Ambas as obras narram as desventuras de um grupo de super-heróis desajustados, com elementos de meta-humor e narrativa cheio de garra. Modelo dos comics já conhecido, com Doom Patrol, Fantastic Four e X-Men à cabeça (emulando-se uns aos outros ao longo das décadas)...mas este "The Umbrella Academy" distorce um pouco o padrão.

Na criação do mito do super-herói, existe quase sempre algo traumático e mais tarde catártico, que define os valores e missão da nossa personagem: o Super-Homem tem problemas de identidade, Bruce Wayne viu os seus pais morrerem, Peter Parker não conseguiu salvar o Tio Ben…

A partir da obra vencedora do Eisner em 2008, o showrunner Steve Blackman adapta a história de um grupo de jovens com poderes especiais, misteriosamente nascidos todos no mesmo dia. Adoptados pelo bilionário Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore), crescem juntos numa mansão, onde aprendem a lutar contra o crime...até se fartarem, se afastarem uns dos outros e largarem o seu fardo e trauma para trás: serem super-heróis.

The Umbrella Academy

Mas doze anos mais tarde, quando Hargreeves morre, o fortíssimo Luther (Tom Hopper), o ninja Diego (David Castañeda), a controladora de mentes Allison (Emmy Raver-Lampman), o medium Klaus (Robert Sheehan), a ordinária Vanya (Ellen Page) e o viajante no tempo Número Cinco (o surpreendente Aidan Gallagher) têm de se reunir e tentar trabalhar em conjunto com os seus distintos super-poderes, para desvendar o mistério que rodeia a morte do “pai”. Ou não. Se lhes apetecer.

Durante dez episódios de uma hora cada, e ao som de uma banda sonora recomendável de Jeff Ross, que une elementos de rock e orquestral rendilhado que respiram a personalidade de cada irmão, a série adapta elementos dos arcos narrativos da BD "Apocalypse Suite" e "Dallas", desvendando a origem das personagens, abrindo o caminho para os seus verdadeiros propósitos e a sua função na salvação do mundo.

Viagens temporais, um macaco falante, uma dupla de assassinos com demasiadas queixas à administração, (Mary G. Blige e Cameron Britton), discussões e birras adolescentes, acontecem num cenário pitoresco de elementos anacrónicos, como que saído de algum filme de Wes Anderson.

The Umbrella Academy

Alguns episódios recorrem a subenredos entediantes, como o romance de Luther e Allison ou a origem do vilão. Mas as cenas de ação equilibram a série, pois os poderes (e efeitos especiais) de alteração espaciotemporal agarram-nos até à próxima birra entre irmãos, embora usem canções já gastas na cultura pop, para dar ritmo e emoção: "Sinnerman", "Don't Stop Me Now" ou "Happy Together"... quantas vezes já não ouvimos isto?

Com ecos da saga "Dark Phoenix", dos X-Men, desenvolvida em 1980 por Chris Claremont e John Byrne - principalmente no paralelismo entre a autodescoberta de Vanya e Jean Grey - de Phoenix a Dark Phoenix; passando pela excentricidade de "Lemony Snicket - A Series of Unfortunate Events", mas sem a coragem de abordar toda a estranheza da obra original; terminando com a inquietude e desajuste de "The Breakfast Club", "The Umbrella Academy" é um bom herdeiro ao lugar deixado pela razia dos cancelamentos Netflix. E um eficiente mashup das influências que ficaram de "Doom Patrol" e da Marvel, a Casa das Ideias.

3/5