“Fool’s Gold”, expressão anglo-saxónica utilizada para descrever algo que parece ter valor mas que na verdade não o tem, como o proverbial ouro que afinal é pirite ou uma potencial experiência prazerosa que defrauda por completo as nossas expectativas. É também uma denominação que em nada serve para descrever os The Walks.
A banda conimbricense não se dissimula por detrás de conceitos pomposos nem se ilude achando que vai reinventar a roda, simplesmente rocka e rolla com a naturalidade de quem faz a coisa por gosto, se bem que acusando alguma verdura. Foi de honestidade e genuíno apreço que se fez a noite de lançamento do acima intitulado primeiro álbum dos The Walks, na passada sexta-feira, que não encheu o Sabotage mas contou com dedicados fãs do quinteto.
Após um interminável período de atraso (um vírus que parece contaminar as casas de espetáculo do Cais do Sodré), a banda finalmente subiu ao palco para presentar o público com aquilo que no fundo é todo o seu ainda reduzido material de fundo. Quer nos temas ensaiados deste “Fool’s Gold” e os do EP que os catapultou para os palcos, as suas influências estão bem demarcadas, a norte mas ainda no meridiano de Greenwich. Garage rock de recorte britânico, a sonoridade dos The Walks ainda denota a procura de um som que seja deles à medida que vão calejando por esse Portugal fora. Essa busca também se reflete na própria postura da banda, tecnicamente irrepreensível mas ainda a falar aquele pózinho de atitude e magia que realmente eleva um concerto.
Foi, portanto, com um punhado do material já bem assimilado do EP, com Riding the Vice, Before and After e aquele que ainda é o seu tema mais marcante, Redefine, à cabeça, mas principalmente com canções novas com que se passou pouco mais de uma hora. O blues vadio de Move Along e a veia ameaçadora de Pleasure and Pain foram alguns dos novos temas a resultar bem neste setting ao vivo, mas foi com a vinda dos convidados, seus conterrâneos, que a noite ganhou contornos mais especiais. Holding On, apresentado como o primeiro tema escrito pela banda, introduziu as teclas melodiosas de João Jorri Silva (de A Jigsaw) e foi a força eletrizante de Victor Torpedo (dos The Parkinsons) que propalou Clockwork, o single de avanço.
No final, após uma jam ovacionada pelos poucos mas bons espalhados pelo Sabotage, a própria banda admitiu: o encore teria de ocorrer repetindo músicas. Sem problemas, Redefine e Clockwork tratariam de fazer as honras da festa e findar um concerto que nos fez considerar: a dar os primeiros passos, firmes e seguros, os The Walks ainda têm uma promissora jornada a percorrer.
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