O Sumol Summer Fest (SSF) não é um festival de música. O SSF é um festival de pessoas que, por acaso, também tem música. Vir ao SSF é apenas um pretexto para reencontrar amigos, tomar uns banhos (de sol, no mar e de cerveja), grelhar a boa da febra, praticar as manobras de skate ou - porque não? - desfilar nu pelo parque de campismo. Isto é o que faz este pessoal verdadeiramente feliz. A música? Sim, é engraçadinha até.
A praia é a dois passos daqui e John Butler podia muito bem ter tocado lá, no meio de uma roda e, talvez, com umas tochas cravadas na areia. De qualquer das maneiras, o início do concerto não podia ter sido mais indicado para o público do SSF: "I Used to Get High for a Living". Noventa porcento do recinto identificou-se com as palavras do australiano (atenção: os números não são oficiais). É preciso ver para crer que John Butler Trio é, realmente, um trio. Na realidade, a avaliar pelo preenchimento musical e pela variedade de arranjos, mais parece tratar-se de uma orquestra. O segredo está na pedaleira conectada à guitarra de John Butler. A distorção e as doze cordas fazem o resto. Ah, e as unhas bem afiadas de Butler, claro.
Ver este homem manusear a guitarra deve ser desmoralizador para quem gosta de tocar de vez em quando. Só não o vimos tocar com os dentes como o grande Hendrix, mas, de resto, fez um pouco de tudo. Quando chegou "Ocean", foi de ouvir e chorar por mais. Não é possível que tamanha ovação tenha sido apenas fruto dos apetites femininos pelo estilo "wild" de John Butler. Foram dez minutos de intenso diálogo com as cordas. Umas vezes, conturbado, outras, pacífico. Não se sabe bem porquê, mas o trio australiano foi quase escorraçado do palco: o concerto nem chegou a uma hora. Para fechar, tocaram "Funky Tonight".
Antes de pisar o palco, Ky-Mani Marley foi preludiado pela sua banda, que fez uma espécie de medley. Os primeiros acordes foram os do clássico "Final Countdown", dos Europe. De seguida, o terceiro filho de Bob Marley irrompeu pelo palco e cantou "Roots, Rock, Reggae", desde logo, auxiliado pela plateia. «É muito bom estar aqui novamente. É só gente bonita», atirou o jamaicano. Apesar de nos ter mostrado algum material novo, Ky-Mani fez quase que uma espécie de tributo ao seu pai. "This is Love" e "Could You Be Loved" foram as que mais mexeram com o público. Pelo meio, pegou numa t-shirt com a cara do pai estampada e ergueu-a bem alto, criando grande algazarra. Sempre irrequieto e enérgico, Ki-Mani fez esquecer o frio que já começava a sentir-se pela Ericeira.
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