Esta primeira mostra individual da artista franco-canadiana em território português é um “poema”, porque está pensada para estar em contacto com o mundo natural, através do Parque de Serralves, que assinala este ano o seu centenário, explica Filipa Loureiro, curadora da exposição.

“É um poema (…) E de facto, quando confrontados perante esta peça e o nosso exterior, somos confrontados com a relação com o mundo natural, com o sol que entra pela janela, as árvores do eucalipto que se adivinham no bosque de Serralves (...), e lá ao fundo temos o rio Douro que se encaminha para a Foz, e a relação do rio e o encontro com o mar”.

A exposição, que fica em Serralves até 2 de junho de 2024, está localizada na sala central do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, e à primeira vista descobrem-se dezenas de cordas coloridas feitas em algodão, que se soltam das paredes.

Sobressaem entre as cordas - um material flexível e que nos remete para expansão marítima e naval do século XV e XVI em Portugal e para as cinco fábricas de cordoaria que existiram no Porto - quatro quadros em cerâmica pintada, com destaque para um dos painéis que se chama de “Estuário”, numa alusão à união do Rio Douro ao Oceano Atlântico, e “onde o sal e a água doce se encontram”, como refere o título da mostra.

A forma volátil das cordas vai-se alterando conforme a posição e o ângulo do espectador e essa flexibilidade das cordas é propositada para levar quem vê à reflexão de poder também ver o mundo de vários prismas e ser flexível, tal como as cordas usadas na exposição, explicou Kapwani Kiwanga, durante a vista de imprensa, realizada hoje.

Meia dúzia de metros à frente do primeiro momento da exposição, o espectador avista uma escultura junto a uma janela que domina o espaço e onde a artista reflete sobre os mitos da criação do mundo e da cultura bakongo, um povo originário de Angola.

Nessa escultura pode ver-se uma linha de azulejos brancos que separa na longitudinal a instalação e que simboliza a fronteira que separa o mundo espiritual do mundo natural, explicou a curadora Filipa Loureiro.

A escultura é também composta por linhas de mármore e de vido espelhado preto que correm paralelas à cerâmica de um lado, e de arenito claro e espelho do outro, indicando os diferentes habitats das esferas de madeira de figueira, uma árvore que remete para a criação do mundo, destaca a curadora.

A primeira exposição individual da artista franco-canadiana Kapwani Kiwanga em Portugal foi adaptada especificamente para o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, acrescenta Filipa Loureiro.

Kapwani Kiwanga, vive em Paris (França), estudou Antropologia e Religiões comparadas na Universidade de McGill de Montreal (Canadá), mais tarde ingressou na Escola Superior de Belas Artes de Paris. Participou há dois anos na Bienal de Veneza, recebeu o Prémio de Arte de Zurique em 2022 do Museu Haus Konstruktiv e o Prémio Frieze 2028, entre outros.

Considerada umas das mais importantes artistas da sua geração, Kapwani em todo o seu percurso “procurou sempre criar narrativas para cada um dos locais" em que expõe, "e muitas vezes essas narrativas são feitas a partir dos materiais locais”, explicou Filipa Loureiro, como acontece com a exposição de Serralves.