“John le Carré completou um romance – ‘Silverview’ - antes da sua morte e será publicado, globalmente, em outubro, no que teria sido o seu 90.º aniversário. A única tristeza foi não poder telefonar-lhe para lhe dizer o quanto gostei”, escreveu Jonny Geller na sua conta de Twitter.

A editora Dom Quixote, que tem publicado toda a obra do escritor, confirmou que irá publicar também este romance, mas não adiantou para já detalhes, nem a data do lançamento em Portugal.

Terminado antes da sua morte, em dezembro, le Carré deu o aval para a publicação do romance, que segue a história de um livreiro que se vê envolvido numa fuga de espiões, segundo o jornal The Guardian.

“Silverview” é um “livro carregado, forense, lírico, e feroz”, em que o autor mergulha na "alma dos Serviços Secretos modernos”, um “romance final soberbo e adequado", disse o filho mais novo do autor, Nick Cornwell, também romancista, que escreve sob o pseudónimo de Nick Harkaway.

"Este é o autêntico le Carré, contando mais uma história", acrescentou, citado pelo The Guardian.

O famoso autor de thrillers como “O espião que saiu do frio”, “A casa da Rússia”, “O fiel jardineiro” e “A toupeira”, morreu em dezembro do ano passado, aos 89 anos.

Nascido David Cornwell (escrevia sob o pseudónimo John le Carré), o escritor tinha estado a trabalhar em “Silverview”, o seu 26.º romance, juntamente com “Um legado de espiões” (2017) e “Agente em campo” (2019). Quando morreu, tinha completado o manuscrito de “Silverview”.

Trata-se da história de Julian Lawndsley, um homem que deixa um emprego de luxo na cidade para gerir uma livraria numa pequena cidade costeira inglesa.

Após alguns meses, é visitado por um emigrante polaco que vive em ‘Silverview’, a grande casa no limite da cidade, que parece excessivamente interessado no seu novo negócio.

Quando um chefe de espionagem em Londres é avisado de uma fuga perigosa, as suas investigações levam-no ao retiro de Julian junto ao mar.

Jonny Geller, agente literário de le Carré, disse que tinha sido extraordinário ler o livro após a sua morte, e manifestou-se "muito emocionado por não poder pegar no telefone e ligar-lhe imediatamente" para falar sobre ele.

"Eu sabia que [o livro] existia e que ele [le Carré] tinha estado a trabalhar nele", disse Geller.

Segundo o agente, este foi um projeto iniciado há bastantes anos, mas que foi ligeiramente deixado de lado, talvez porque o autor se distraiu com as suas memórias, “O Túnel dos Pombos”.

“Depois disso, teve a ideia de ressuscitar George Smiley com ‘Um Legado de Espiões’. Por isso, penso que as coisas foram apenas adiadas e que nos últimos meses antes da sua morte voltou" a este projeto, acrescentou.

Os filhos de John le Carré, juntamente com um arquivista, estão a catalogar o arquivo de obras inéditas do pai.

“Silverview” foi o único romance completo que ficou por publicar na altura da sua morte, mas Jonny Geller revelou que estão a ser encontradas “cada vez mais coisas” e que há outros planos em estudo, porque le Carré estava “a escrever outra coisa na altura da sua morte”.

“No entanto, assim que lemos ‘Silverview’, pensámos: ‘Temos de deixar que outras pessoas vejam isto’", acrescentou, descrevendo o livro como um “le Carré absolutamente clássico, elegante, belamente concebido, com muitas reviravoltas, e um comentário fundamental sobre os serviços secretos”.

“Ler o romance de le Carré depois da sua morte parece um presente que ele nos deixou. ‘Silverview’ é tão urgente e vivo como qualquer um dos seus trabalhos passados", considerou o agente.

Segundo o The Guardian, a editora Viking, que vai lançar o livro a 14 de outubro, na semana que marcaria o 90.º aniversário de le Carré, descreveu “Silverview” como “a história hipnotizante de um encontro entre inocência e experiência e entre o dever público e a moral privada”, em que le Carré "procura responder à questão de saber o que devemos verdadeiramente às pessoas que amamos".