“Independentemente de preferências ideológicas, Jô Soares foi uma grande personalidade brasileira que conquistou a todos com seu modo cómico de discutir assuntos profundos. Que Deus conforte a família e o acolha com a cordialidade que o próprio Jô recebia a todos”, escreveu o Presidente brasileiro no Twitter.

“Jô sempre fez bom uso do seu direito de livre expressão. Por muitas vezes teceu duras críticas contra mim, inclusive. Mas foi por viver num país livre, não em um regime autoritário, que ele pode exercê-lo integralmente. Essa é a beleza da democracia.”, acrescentou.

Jô Soares

O chefe de Estado brasileiro também frisou: "No fim das contas, as divergências pouca diferença fazem na hora de nossa partida para perto de Deus. O que fica são as nossas obras, e Jô Soares deixa para o Brasil um exemplo de postura, elegância e bom humor, e, por isso, tem o meu respeito.”

Desde o início do Governo Bolsonaro, Jô Soares, que morreu na madrugada de hoje, aos 84 anos, num hospital em São Paulo, escreveu uma série de cartas abertas endereçadas ao governante que foram publicadas no Jornal Folha de S.Paulo, em que explicava conceitos e fazia ironias sobre o governante.

Numa delas, que o jornal republicou hoje, o humorista e escritor explicava a Bolsonaro o conceito de nazismo, corrente e extrema-direita, que ele erroneamente associa às esquerdas.

Jô Soares também ironizou as declarações do governante em defesa de remédios ineficazes contra a COVID-19, como a hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, numa carta aberta publicada em novembro de 2020.

Além das condolências e da mensagem emitida pelo atual Presidente brasileiro, outras personalidades como a ex-presidente Dilma Rousseff também publicaram mensagens lamentando a morte do humorista e escritor cuja morte está entre os assuntos mais comentados do país.

“Quando eu estava sob intenso ataque da ‘media’ e dos adversários políticos, pouco antes do processo de 'impeachment' [destituição], em abril de 2016, ele abriu seu programa para me entrevistar", lembrou Dilma Rousseff em mensagem nas redes sociais.

“Foi uma conversa respeitosa e muito importante. Jô foi a única voz dentro da Globo disposta a me ouvir naquele momento. E disso eu não me esqueço. Ele foi um democrata e era um artista de princípios”, acrescentou a ex-presidente.

Após a entrevista com Dilma Rousseff, deposta oficialmente pelo Congresso brasileiro em agosto de 2016, Jô Soares recebeu várias críticas e até mesmo ameaças de morte. Ele deixou a televisão no mesmo ano, quando seu programa na TV Globo foi encerrado.

Filho do empresário Orlando Soares, do Rio de Janeiro, Jô Soares estudou na Europa, a partir dos 16 anos, com o objetivo de seguir a carreira diplomática.

Aos 20 anos, porém, de regresso ao Brasil, foi seduzido pelo cinema, aceitando um papel no filme "O Homem do Sputnik", de Carlos Manga, onde o talento é reconhecido e lhe abre as primeiras portas da televisão e dos palcos.

No final da década de 1950, a biografia oficial coloca-o em canais como TV Rio, TV Continental e TV Tupi, para os quais também escrevia, ao mesmo tempo que se estreou nos palcos, trabalhando ao lado de atores como Paulo Autran e Tônia Carreiro, então já consagrados.

Durante os anos de 1960, manteve-se na TV Record, chegando à Rede Globo, em 1968, onde se estreou com "Faça Humor Não Faça Guerra".

O sucesso maior aconteceu em 1981, quando estreou "Viva o Gordo", que se manteve nos ecrãs durante seis temporadas, e chegou a Portugal, na altura, através da RTP.

Seguiu-se "Veja o Gordo", desta vez no canal SBT, onde completou 17 anos de emissões.

Ainda nos anos de 1980, Jô Soares optou por um modelo de 'talk show' mais próximo do norte-americano, intercalando convidados, entrevistas, 'sketches' e música. Surgiu assim "Jô Soares Onze e Meia", ainda na SBT, que deu origem, mais tarde, a "O Programa do Jô", de novo na Globo, que chegou a Portugal através do canal por cabo GNT.

Como escritor de ficção, assinou títulos como "O Xangô de Baker Street", "O Homem Que Matou Getúlio Vargas" e "Assassinatos na Academia Brasileira de Letras", obras editadas em Portugal pela Presença.

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