Uma ex-modelo polaca, que testemunhou em lágrimas na quinta-feira no julgamento de Harvey Weinstein, disse que o antigo magnata do cinema a agrediu sexualmente quando ela era menor de idade, aos 16 anos.

Kaja Sokola, de 39 anos, alegou num tribunal criminal de Nova Iorque as circunstâncias de uma alegada agressão em 2002, quando se encontrou com Weinstein num apartamento em Manhattan.

"Fiquei assustada, nunca tinha estado numa situação íntima antes disso", disse Sokola num depoimento explícito, acrescentando que, enquanto ele a molestava, ela notou Weinstein "a olhar para mim no reflexo" de um espelho da casa de banho.

"Nunca me vou esquecer isso", disse.

Sokola está a ser ouvida esta semana num tribunal criminal pela primeira vez, como uma das três acusadoras num caso de Nova Iorque de 2020, alegando que Weinstein cometeu múltiplas agressões sexuais.

Weinstein não enfrenta acusações no alegado incidente de 2002 com Sokola porque está fora do prazo de prescrição.

Na quarta-feira, Sokola testemunhou que Weinstein também a agrediu sexualmente na primavera de 2006, num hotel em Manhattan, quando ela tinha 19 anos, alegações negadas pelo cofundador do estúdio Miramax.

As outras duas acusadoras — a ex-assistente de produção Miriam Haley e a então aspirante a atriz Jessica Mann — testemunharam no julgamento original de Weinstein.

As suas denúncias ajudaram a galvanizar o movimento #MeToo há quase uma década, mas o caso está a ser outra vez litigado, com Weinstein a enfrentar novo julgamento em Nova Iorque.

As condenações de 2020 por acusações relacionadas com Haley e Mann foram anuladas no ano passado por um tribunal de apelo de Nova Iorque, que decidiu que a forma como as testemunhas foram tratadas no julgamento original foi ilegal.

Harvey Weinstein a 8 de maio

Sokola disse que era uma aspirante a atriz de 16 anos quando conheceu Weinstein num jantar com outras modelos.

O produtor de cinema, quase 40 anos mais velho que ela, ligou-lhe alguns dias depois para propor um almoço, testemunhou, mas em vez disso chegaram a um apartamento e ele disse-lhe para tirar a roupa.

"Ele obrigou-me a ir à casa de banho. Disse-lhe que não queria fazer isso, e ele disse que eu tinha que trabalhar na minha teimosia", disse Sokola em tribunal, testemunhando que Weinstein a tocou e a forçou a tocá-lo até que ele ejaculasse.

A polaca lembra-se de se ter sentido "estúpida, envergonhada", enquanto Weinstein, de 73 anos, sentado n uma cadeira de rodas, olhava para o júri ou apoiava as mãos na testa.

Quando ela disse a Weinstein que queria ir embora, "ele ficou chateado" e disse: "Tinha que ouvi-lo se quisesse seguir a minha carreira em Hollywood", acrescentou Sokola, que agora é psicoterapeuta.

Sokola reconheceu que, um ano depois, começou a perder peso e sofria de condições como anorexia e bulimia.

Questionada pela procuradora Shannon Lucey por que nunca relatou o ocorrido, respondeu: "Achei que a culpa era minha".

"Era uma adolescente feliz antes disso", disse. "Tinha limites, mas isto aconteceu tão depressa, sem a minha permissão."

Sokola disse que viu Weinstein novamente num almoço em 2006 e que ele a atraiu para um quarto de hotel em Manhattan sob o pretexto de lhe mostrar um argumento.

A antiga modelo disse que Weinstein a empurrou para uma cama e a forçou a fazer sexo.

"Disse-lhe para parar", esclareceu no seu depoimento, que deve continuar na sexta-feira, "mas ele não quis saber".

O produtor de sucessos de bilheteira como "Pulp Fiction" e "A Paixão de Shakespeare" nunca reconheceu ter cometido qualquer crime. Ele afirma que as relações foram consensuais.

Weinstein cumpre outra sentença de 16 anos de prisão imposta por um juiz da Califórnia por violar e agredir sexualmente uma atriz europeia há mais de uma década.