O cineasta francês Christophe Ruggia, acusado de ter agredido sexualmente a atriz Adèle Haenel quando ela tinha 12 anos, negou esta segunda-feira as acusações durante a abertura do seu julgamento em Paris.

Ruggia é acusado de ter agredido sexualmente Haenel, protagonista de filmes como "Os Combatentes", "Retrato da Rapariga em Chamas" e “120 Batimentos Por Minuto", no início dos anos 2000, quando ela tinha entre 12 e 14 anos e ele cerca de 40.

Haenel, 35 anos, foi a primeira atriz proeminente a acusar a indústria cinematográfica francesa de fechar os olhos aos casos de agressão sexual.

"Tinha que haver um #MeToo francês e era a minha vez", disse Ruggia, 59 anos, ao tribunal, alegando que as acusações são "puras mentiras".

O cineasta pode ser condenado a 10 anos de prisão e multa de 150 mil euros se for considerado culpado de agredir um menor.

Adèle Haenel no tribunal a 9 de dezembro de 2024

"Ele disse que a criou", que "a amava, que os outros não conseguiam perceber, e que não teve sorte ao apaixonar-se por ela, que tinha o corpo de uma pessoa adulta", leu o juiz, referindo-se a Ruggia.

Em 2019, Haenel acusou o realizador de submetê-la a "assédio sexual constante" desde os 12 anos, incluindo "beijos forçados no pescoço" e toques.

Ruggia dirigiu a atriz no filme "Les Diables", lançado em 2002, que tratava de uma relação incestuosa entre um miúdo e a sua irmã autista.

O filme contém cenas sexuais entre crianças e primeiros planos do corpo nu de Haenel.

Os investigadores disseram que a atriz lhes disse que algumas sequências a deixaram "muito desconfortável" e que outras foram "violentas".

Entre 2001 e 2004, a atriz adolescente visitava Ruggia quase todos os sábados. Haenel acusou-o de procurar desculpas para abordá-la durante aqueles encontros, em sua casa, em que afirma que o cineasta acariciava as suas coxas e tocava os seus órgãos genitais e seios.

Mas, segundo Ruggia, foi a própria atriz quem "pediu para ir" à sua casa e quem "talvez tenha reinterpretado" esses gestos para lhes dar um caráter sexual.

Adèle Haenel, vencedora de dois Césares – o maior prémio francês do cinema – disse no ano passado que iria deixar a indústria por causa do que descreveu como a complacência com predadores sexuais.