
Um juiz de instrução ordenou o encaminhamento de Gérard Depardieu, de 76 anos, para o Tribunal Penal de Paris para ser julgado por violação e agressão sexual no caso que envolve a atriz Charlotte Arnould, segundo informações da agência France-Presse (AFP) obtidas na terça-feira de fontes próximas do caso.
"Sete anos depois, sete anos de horror e inferno... (...) A ordem restabelece uma forma de verdade judicial. Acho que estou com dificuldade em perceber o quanto isto é enorme. Estou aliviada", disse a atriz na Instagram, que apresentou a queixa alguns dias após os acontecimentos de 2018 e cujo pai era um velho amigo da lenda do cinema francês.
"A ordem do juiz de instrução ordena que Gérard Depardieu compareça no Tribunal Penal por agressão sexual e violação por penetração digital em duas datas, 7 e 13 de agosto de 2018", disse Carine Durrieu-Diebolt, advogada da queixosa.
"A minha cliente e eu estamos aliviadas e confiantes. Esta é uma forma de verdade judicial para Charlotte enquanto aguarda o julgamento criminal. Esta ordem é também uma resposta às falsas alegações feitas contra ela em certos meios de comunicação", acrescentou.
O Tribunal Penal é a instância judicial mais elevada de França, reservado para crimes com penas superiores a cinco anos, caso o arguido seja considerado culpado.

O caso é um dos mais antigos abertos contra o ator de mais de 200 filmes e séries, que alega ter tido uma relação consensual. A justiça francesa arquivou inicialmente a denúncia de Arnould, mas a atriz conseguiu que a investigação fosse reaberta em meados de 2020 e o ator foi indiciado a 16 de dezembro de 2020.
Em julho deste ano, a Procuradoria de Paris solicitou um novo processo. Outros pedidos semelhantes já tinham sido apresentados em agosto de 2024, mas foram invalidados por motivos processuais.
O advogado de Depardieu, contactado pela AFP, não reagiu de imediato.
Numa carta publicada no Le Figaro em outubro de 2023, o ator contestou as acusações.
"Nunca, jamais, abusei de uma mulher", afirmou, referindo-se às acusações de Charlotte Arnould.
"Uma mulher veio a minha casa uma vez, entrando discretamente no meu quarto por vontade própria. Agora diz que foi violada lá", escreveu. "Nunca houve qualquer coação, violência ou protesto entre nós".
Charlotte Arnould apresentou queixa inicialmente em agosto de 2018 numa esquadra de polícia no sul de França, mas o Ministério Público de Aix-en-Provence renunciou posteriormente à jurisdição a favor do Ministério Público da capital francesa.
Após o arquivamento inicial do caso por "crime insuficientemente fundamentado", Charlotte Arnould apresentou uma queixa como parte de uma ação cívil, que resultou na abertura de um inquérito judicial no verão de 2020.
Em dezembro de 2021, ao ver que "nada" acontecia e que o ator continuava com a sua carreira, a denunciante revelou a sua identidade na rede social Twitter e, em abril de 2023, partilhou a sua versão dos factos na revista Elle.
Naquele verão de 2018, a então jovem bailarina, enfrentando uma anorexia, decidiu mudar de rumo e foi selecionada para "Passion", obra dirigida por Fanny Ardant.
Convidada, foi à residência do ator, que descreve como um "amigo da família", uma pessoa em quem tinha "confiança absoluta" e que estava ciente da sua "doença".
"Após 10 minutos", aquele que "poderia ser [seu] avô" colocou uma mão na sua roupa íntima, acrescenta.
Vencedor do Prémio César (os "Óscares da França) de Melhor Ator pelo seu papel em "O Último Metro" (1980), de François Truffaut, e por "Cyrano de Bergerac" (1990), de Jean-Paul Rappeneau, Gérard Depardieu foi durante várias décadas considerado um gigante sagrado do cinema francês conhecido a nível mundial, antes de ser ultrapassado pelas suas declarações ultrajantes e acusações de violência sexual.
Em meados de maio, foi condenado a 18 meses de prisão, com pena suspensa, pela agressão sexual de duas mulheres na rodagem de "Les Volets Verts", de Jean Becker, em 2021, condenação da qual recorreu.
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