Quatro anos depois de "Roma", JP Simões decidiu incorporar as mudanças que sentia na sua vida e na sua música, com um novo nome, Bloom, que não está apenas relacionado com referências da literatura, como a personagem Leopold Bloom de James Joyce, ou o "crítico romântico" Harold Bloom, mas com o "imperativo de florescer", contou à agência Lusa o músico, natural de Coimbra.
"Já me estava a sentir um pouco redundante. Achei que havia muita coisa que tinha mudado e, com ela, a minha vida e a minha música", afirma.
O novo projeto de JP Simões assume essas mudanças no processo de composição musical, nas texturas que quis dar aos temas, no uso do inglês e num afastamento de uma música marcadamente autonarrativa.
Bloom surge no sentido "de florescer", como "qualquer coisa a almejar", um nome que dá motivação ao artista para "fazer jus" ao seu novo alter ego, explana, considerando que, com este trabalho, afasta-se das "coisas urbanas" e ligadas "ao comércio das emoções" e, por consequência, aproxima-se de "espaços mais telúricos".
As canções do álbum foram construídas numa altura "difícil" da vida de JP Simões, que procurou "recriar um mundo um bocadinho melhor", assumindo a música como algo que o pudesse iluminar, um espaço "onde pudesse encontrar algum consolo e alguma clareza".
Para o disco, o membro fundador dos Belle Chase Hotel andou a beber de vários lados, principalmente nas guitarras do blues e da folk, com dois nomes à cabeça: o britânico Nick Drake e o guitarrista de Delta blues Robert Johnson.
No álbum de dez faixas, a relação do artista com o tempo está também muito presente, nomeadamente em "Meeting Time", onde canta "as pessoas vão e vêm".
A faixa era "era para ser o nome do álbum", mas "Tremble like a Flower" acabou por lhe parecer uma "forma mais bonita" de falar sobre a "fragilidade", "não só no espaço, como no tempo".
"Espero que seja um encontro de contas e que agora não tenha de passar o resto da minha vida a falar do tempo", sublinha JP Simões, à Lusa.
Segundo o músico, este álbum é "menos autonarrativo", utilizando a segunda e a terceira pessoas, para conseguir "algum afastamento do sujeito do discurso", de modo a colocar-se num lugar onde se possa ver.
Também nos arranjos, surgem várias mudanças com Bloom.
Com a entrada na composição e produção de Miguel Nicolau, dos Memória de Peixe, JP Simões passou a olhar com mais atenção para "a escultura, a arquitetura e a textura do som", surgindo "coisas que a música sugeria", que, sozinho, "não conseguia encontrar".
Miguel Nicolau "mudou a música ainda mais e tornou-a ainda mais distinta". Expande-se de "uma maneira muito intensa, de forma luminosa e ao mesmo tempo muito elétrica", quando tocada ao vivo pela mão dos músicos que pôs a abordar o álbum.
Bloom sobe hoje ao palco do Lux, em Lisboa, às 22:30, para o concerto de lançamento do disco, acompanhado por Carlos Bica (contrabaixo), Sérgio Costa (saxofone e flauta), João Gomes (teclas) e Marco Franco (bateria).
A 24 de março, Bloom atua em Aveiro, no Teatro Aveirense.
Além do projeto a solo, que iniciou com "1970", em 2007, JP Simões foi membro fundador dos Belle Chase Hotel e participou no "Sex Symbol", dos Pop Dell'Arte, entre outras colaborações.
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