Depois de marcações e remarcações, os Iron Maiden vieram dar a Lisboa na última data da sua digressão – querendo o acaso que a “Legacy of the Beast” chegasse num dia marcado por um calor infernal.

Mas, antes dos britânicos, com o dia claro e sem beneficiar de cenários e das amenidades climatéricas noturnas, os Within Temptation exibiram o seu poderoso metal sinfónico que tem na voz dramática e emocional de Sharon den Adel a sua mais-valia diferencial. Sem mais nada que lhes desse guarida, Adel foi direto à uma relação de empatia com o público – onde praticamente toda a sua performance foi marcada pela tentativa, geralmente bem-sucedida, de estabelecer uma cumplicidade com o público.

Para qualquer conhecedor do grupo holandês cuja carreira já vai em quase 30 anos, tudo o que passou pelo alinhamento era familiar, com particular ênfase para a bela “Stand My Ground” – uma das pérolas do grande álbum de 2004, “Silent Force”. Adel, indo buscar agudos no fundo da alma, nunca desafina, jamais sai do registo.

Os Iron Maiden entram em cena num outro registo – já à noite e com direto a grandes elaborações –, inicialmente dando conta dos motivos japoneses alusivos ao último álbum enquanto Bruce Dickinson faz de samurai para enquadrar três temas de “Senjutsu”.

A seguir é evidente que tudo sobe a outro patamar quando entram em cena velhos clássicos – um quadrilátero que enfileira “Fear of the Dark”, “Hallowed Be thy Name”, “The Number of the Beast” e “Iron Maiden”.

Iron Maiden
créditos: Stefani Costa

O mundo do metal é feito de legiões – fiéis que se revêm num gigantesco espírito comunitário. Por alguma ou várias razões, já há muito que os Iron Maiden foram escolhidos para um grupo muito seleto de divindades, a ponto de em 2022 desafiarem o tempo e a longevidade; as quatro décadas e meia de carreira apanham alguns dos seus membros na casa dos 60 (Dickinson tem 63), mas também na dos 70 – entre os quais um Nicko McBrain (70) que esbanja vitalidade.

Os cenários diversos dão voz ao teatro – falando-se de uma banda que desde o início improvável, para não dizer absurdo, surgiu em Inglaterra em plena devastação punk com um nome inspirado num artefato medieval. Ligação com a História aprofundada pelo futuro cantor Bruce Dickinson - que não teve grandes problemas em conceber um épico baseado naquilo que os alunos ingleses estudam na escola como os portugueses estudam Eça de Queirós (“Rime of the Ancient Mariner”, inspirado no poema de Samuel Taylor Coleridge). Tudo isso funcionou e demonstra-se tão longevo como qualquer múmia egípcia – onde a iconografia monstruosa encontrava no Estádio Nacional fãs simplesmente de todas as idades.

Se Sharon den Adel, em sintonia com os media ocidentais, embalou uma das suas performances com a bandeira da Ucrânia, Dickinson volta no encore assegurando a “The Trooper” um estatuto mais duvidoso com a bandeira de Inglaterra – até por se tratar de um artista que militou abertamente a favor do Brexit. Talvez seja um momento incómodo do velho imperialismo britânico – mas se é tudo apenas rock’n’roll, fica-se com o cantor trajado de piloto para a homenagem à aviação inglesa na Segunda Guerra Mundial de “Aces High”, o capítulo final.

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