ATUALIZAÇÃO ÀS 15H40: Paul Rusesabagina foi condenado a 25 anos de prisão.
Um tribunal em Ruanda condenou Paul Rusesabagina, o homem cujas ações inspiraram o filme “Hotel Rwanda”, por crimes relacionados com terrorismo.
Declarando que não esperava justiça num julgamento que chamou de "farsa" e os seus simpatizantes afirmaram que tinha motivações políticas, Rusesabagina boicotou o anúncio da sentença desta segunda-feira.
Até agora, foi considerado culpado pela formação de um grupo armado ilegal e por pertencer a um grupo terrorista. O veredicto ainda está a ser lido por acusações de assassinato, sequestro e assalto à mão armada como um ato de terrorismo.
Promotores de Ruanda pediram a prisão perpétua para Rusesabagina, de 67 anos, ex-gerente do Hotel Mil Colinas de Kigali, a quem se atribui o resgate de centenas de pessoas durante o genocídio de 1994, e cujas ações inspiraram um filme de Hollywood em 2004.
Rusesabagina, que usou o seu prestígio para denunciar o presidente ruandês Paul Kagame como ditador, foi detido em agosto de 2020, quando um avião que ele acredita que seguia para o Burundi pousou em Kigali.
Ele foi acusado de apoiar a Frente de Libertação Nacional (FLN), grupo rebelde acusado de ter executado ataques violentos em Ruanda em 2018 e 2019.
A família afirmou que Rusesabagina foi sequestrado e alega que as nove acusações contra ele, incluindo terrorismo, eram uma vingança do governo pelas suas críticas.
O presidente Kagame rejeitou as críticas sobre o caso, declarando que Rusesabagina está detido não pela sua fama, mas elas vidas perdidas "devido às suas ações".
O julgamento contra Rusesabagina e outras 20 pessoas começou em fevereiro, mas o réu, que tem nacionalidade belga e reside nos EUA, boicotou o processo desde março, ao acusar o tribunal de "arbitrariedade e falta de independência".
Os Estados Unidos, que concederam a Rusesabagina a Medalha Presidencial da Liberdade em 2005, o Parlamento Europeu e a Bélgica, expressaram preocupações com a legitimidade do julgamento.
A Lantos Foundation, um grupo americano de defesa dos Direitos Humanos, pediu ao Reino Unido que rejeitasse as credenciais do novo embaixador de Kigali em Londres, Johnston Busingye, ao destacar que, como ministro da Justiça, ele teve um papel central no "sequestro" de Rusesabagina.
O juiz do caso, Antoine Muhima, defendeu o processo e garantiu que nenhum dos acusados viu rejeitado o direito de falar.
Rusesabagina foi gerente do Hotel Mil Colinas de Kigali, onde recebeu centenas de pessoas durante o genocídio que deixou 800.000 mortos, principalmente da etnia tutsi, em 1994.
Uma década depois, o ator americano Don Cheadle interpretou-o no filme nomeado ao Óscares "Hotel Ruanda", que revelou a história ao público internacional.
Rusesabagina, um moderado da etnia hutu, rapidamente se desencantou com o governo de Kagame, o líder rebelde que se tornou presidente, acusando-o de tendências autoritárias. Deixou o Ruanda em 1996 para morar na Bélgica e nos EUA.
Fora do país, iniciou uma campanha pela mudança política em Kigali e estabeleceu vínculos com grupos opositores no exílio.
O governo de Kagame acusou-o de apoiar a FLN, grupo rebelde acusado de ataques que causaram nove mortos.
Rusesabagina nega qualquer papel nos ataques, mas foi um dos fundadores do Movimento Ruandês para a Mudança Democrática, grupo opositor do qual a FLN é considerada o braço armado.
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