Este espaço expositivo dedicado à literatura portuguesa – “Torre Literária” - estende-se por quatro andares e 14 salas e percorre uma linha temporal que começa no presente (século XX) e se estende para o passado (até ao século XIII), segundo a informação disponibilizada pelo museu.

Nesse percurso, surgem diversas referências aos autores do cânone literário português em vários formatos e suportes, nomeadamente o filme, de que é exemplo a cinematografia de Manoel de Oliveira, que tem uma relação muito íntima com a literatura portuguesa, justificando a sua presença ao longo da exposição.

Além de filmes, podem ser vistas outras imagens, sons e textos explicativos de tudo o que é apresentado.

Existiu também uma preocupação por parte dos curadores da exposição - que são os editores do livro que estabeleceu o cânone da literatura portuguesa, apresentado na quarta-feira -, em estabelecer conexões entre cada um dos espaços que, por vezes, poderão não ser tão evidentes em cada uma das salas.

A escolha dos curadores e editores - António M. Feijó, João R. Figueiredo e Miguel Tamen – centra-se nos autores cuja pertença ao cânone da literatura portuguesa é, do seu ponto de vista, indiscutível e inclui Fernando Pessoa e Luís de Camões, os únicos autores com direito a dois textos cada um (no livro) e aqueles que abrem e fecham a obra.

O título da exposição, “Louvor e simplificação da literatura portuguesa”, é decalcado de um poema de Mário Cesariny (outro dos autores contemplados na lista dos que formam o cânone), no qual o poeta surrealista estabelece uma relação intertextual com alguns poemas de Álvaro de Campos (um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa).

A exposição contará ainda com uma instalação interativa "inovadora e única no mundo" que combina tecnologias de ponta dos domínios da Inteligência Artificial e da Criatividade Computacional para criar, em tempo real e de forma automática, “retratos tipográficos” dos visitantes da exposição.

Intitulado Photomaton, este projeto foi desenvolvido especificamente para a “Torre Literária”, tendo em conta o seu espaço, natureza e público-alvo.

A instalação nasce da colaboração entre o Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC) e o Instituto Pedro Nunes (IPN), como resposta a um desafio colocado pela Fundação Cupertino Miranda.

Através do uso de algoritmos de visão computacional e de técnicas generativas não deterministas, o Photomaton cria retratos dos visitantes, usando apenas elementos tipográficos, mais especificamente letras, de modo a que cada visitante possa criar o seu retrato tipográfico e combiná-lo com um dos textos dos vários autores à escolha, explica a fundação.

Durante a criação de cada retrato, milhares de letras são posicionadas de forma precisa para criar representações reconhecíveis dos rostos dos visitantes, fazendo de cada retrato único e irrepetível.

O livro “O Cânone”, que está intimamente ligado a esta exposição, apresenta uma lista de cerca de 50 autores, aos quais são dedicados ensaios, escritos principalmente pelos seus editores, mas também por diferentes colaboradores, entre ensaístas, professores e investigadores, como é o caso de Pedro Mexia, Fernando Cabral Martins, Joana Matos Frias ou Abel Barros Baptista.

Editado pela Tinta-da-China e pela Fundação Cupertino de Miranda, esta obra procurou apontar aqueles que serão os grandes escritores que formam o cânone da literatura portuguesa, e cuja diversidade oscila entre nomes como Eça de Queirós, Dom Duarte, Bocage, Frei Luís de Sousa, José Saramago, Florbela Espanca, Maria Judite de Carvalho (deixando de fora o marido, Urbano Tavares Rodrigues, um nome literariamente mais conhecido) ou as chamadas “Três Marias”.

De fora ficaram escritores como Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner e Vergílio Ferreira, suscitando críticas entre quem assistia à apresentação em direto de “O Cânone”, na quarta-feira passada, através das páginas de Facebook da Tinta-da-China e da Fundação Cupertino de Miranda.

Contudo, os editores salvaguardam que o critério de escolha dos “grandes escritores” não é o consenso ou a votação popular, mas sim o facto de terem sempre leitores, mesmo que poucos, ao longo do tempo.

Além dos ensaios sobre os autores, o livro compreende outros textos, dedicados a temas, escolas ou movimentos da literatura, como é o caso, por exemplo, do Renascimento e do Barroco, das revistas Orpheu e Presença, ou de críticos e prémios literários.