Esta é a premissa de “A Duquesa Feia: Beleza e Sátira no Renascimento”, que explora os conceitos de beleza, velhice e misoginia nos séculos XV e XVI como contexto de uma das obras mais emblemáticas da coleção do museu.

Ao longo dos séculos, numerosas teorias rodearam o meticuloso retrato de uma mulher de aspeto grotesco e másculo adornada com um toucado, cujo vestido decotado evidencia o busto, enquanto segura um botão de rosa.

A tela datada de 1513 é conhecida por ter inspirado as emblemáticas ilustrações de John Tenniel em 1865 do livro "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll.

Em 1920, a leiloeira Christie’s vendeu a obra alegando que representava Margaret Maultasch, Duquesa de Carinthia, descrita como a “mulher mais feia da história”, o que levou a imprensa a batizar o quadro de “A Duquesa Feia”.

Mais recentemente, académicos sugeriram que a mulher representada sofreria da doença de Paget, que provoca hipertrofia óssea que afeta frequentemente o crânio e às vezes os maxilares e os ossos faciais.

Porém, ao expor a obra juntamente com desenhos e esculturas da época, a programadora, Emma Capron, defende que Massys (1465/6-1530) fazia parte de um crescente movimento artístico mais vasto durante o Renascimento interessado em explorar o grotesco e cómico.

Para esta exposição, a “Duquesa Feia" foi reunida em público pela segunda vez apenas com o par, “Um Homem Velho”, produzida por Massys no mesmo ano e agora pertencente a um colecionador privado norte-americano.

O quadro perfila um indivíduo visivelmente marcado pela idade, mas num estilo mais convencional e discreto, que parece rejeitar a investida amorosa da mulher.

Segundo Emma Capron, “de acordo com a antiga comédia e sátira humanista, o humor não era gratuito, mas servia um propósito didático”.

"Massys usou o ridículo para fazer um comentário moralizador sobre a vaidade e luxúria dos idosos, especialmente das mulheres idosas, cuja suposta sexualidade desregrada era o alvo frequente das piadas renascentistas”, escreve no catálogo.

A exposição, patente numa pequena sala do museu, reúne pela primeira vez o quadro com reproduções da época de desenhos de Leonardo da Vinci, cedidos pelo rei Carlos III, de rostos com trações exagerados.

Um deles é idêntico ao do retrato de Massys, mostrando a influência do trabalho do italiano sobre o pintor holandês, e reforça a existência de um movimento artístico no Renascimento que satirizou e desdenhou mulheres mais velhas.

Outras obras emprestadas por museus e colecionadores estrangeiros incluem um desenho de cerca de 1500 do alemão Albrecht Dürer de uma bruxa representada visualmente pela primeira vez como anciã, ou um busto em cerâmica do italiano Antonio da Faenza de uma mulher infeliz a fazer uma careta.

Para além de serem movidos por preconceitos de pudor e misoginia da época, os artistas viam na caracterização de mulheres idosas proporcionavam uma possibilidade para se divertirem e serem criativos para além das formalidades exigidas pela beleza, explicou Capron.

“Umberto Eco disse que a beleza é restringida por certas regras, enquanto a fealdade é infinita e imprevisível”, citou.

A exposição, de acesso gratuito, na National Gallery abre ao público na quinta-feira e ficará aberta ao público até 11 de junho.

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