Com curadoria de Marlene Oliveira, Perfecto Cuadrado e João Pinharanda, a exposição, que vai buscar o título a um dos mais conhecidos poemas de Cesariny, vai apresentar “obras do principal núcleo artístico de Cesariny”, bem como “objetos que se encontravam nas paredes de sua casa, ou espalhados pelo seu quarto”.

A exposição vai ficar patente em Vila Nova de Famalicão até setembro do próximo ano, com alterações para incluir “obras não tão reconhecidas”, como indica o ‘site’ da fundação, que é a “detentora de grande parte do acervo pessoal de Mário Cesariny”.

Esse acervo é “constituído por mais de duas centenas de obras de arte, objetos de sua casa, e pelo seu arquivo e biblioteca pessoal, no qual se encontram mais de quatro mil fotografias, cadernos, correspondência, livros intervencionados e vários registos manuscritos em simples papéis”.

A exposição marca o arranque das celebrações do centenário de um dos principais nomes do surrealismo português do século XX.

A programação do centenário vai contar com uma mostra, a partir de outubro, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, intitulada “O Castelo Surrealista”, com obras não só de Cesariny, mas também de Vieira da Silva, George Sand, Edouard Jaguer, André Breton, Cruzeiro Seixas, entre outros.

Em março do próximo ano, vai também haver uma exposição no Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso, em Amarante, e, em junho, no Centro de Arte Contemporânea de Coimbra.

A programação vai contar também com concertos e espetáculos, lançamentos de publicações, além dos encontros da Fundação Cupertino de Miranda.

“Será um ano de celebração de um grande homem, do poeta da liberdade, de uma pessoa insubmissa, que nos inspira a todos. Será uma oportunidade para ficarmos a conhecer melhor a riqueza e a profundidade da sua obra”, sublinhou o presidente da fundação, Pedro Álvares Ribeiro, aquando da apresentação do centenário, em julho.

Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu em 09 de agosto de 1923, em Lisboa, e frequentou a Escola Artística António Arroio entre 1936 e 1943, onde conheceu António Domingues, Cruzeiro Seixas, Fernando de Azevedo, Fernando José Francisco, José Leonel Martins, Júlio Pomar, Pedro Oom e Marcelino Vespeira, segundo a biografia patente no ‘site’ da Fundação Cupertino de Miranda.

Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, foi distinguido com o Grande Prémio EDP em 2002 e, três anos mais tarde, com o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (APE)/Caixa Geral de Depósitos (CGD) e condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Cesariny morreu em Lisboa, em 26 de novembro de 2006.

Aquando da morte, o seu editor, Manuel Rosa, classificou-o como “o maior representante do surrealismo em Portugal”, lembrando não só a sua poesia, mas também o seu trabalho nas artes plásticas.

"A poesia foi um fogo muito grande que ardeu. Depois ficaram as cinzas. Não sou capaz de fazer versos porque sim. Acabou", declarou, no documentário "Autografia" (nome de um poema seu), realizado por Miguel Gonçalves Mendes em 2004, o único feito sobre a sua vida e obra.

"Sou um poeta bastante sofrível, um grande poeta numa época em que o teto está muito baixo", "sem Anteros, Pessanhas ou Pessoas", e em que "o surrealismo foi transformado em museu", afirmou.

Para Cesariny, homossexual assumido, o amor era "um desmesurado desejo de amizade", em que "o outro é um espelho sem o qual não nos vemos, não existimos", e "a única coisa que há para acreditar".

"[É] o único contacto que temos com o sagrado. As igrejas apanharam o sagrado e fizeram dele uma coisa muito triste, quando não cruel. O amor é o que nos resta do sagrado", defendia.